Maputo, 16 set 2020 (Lusa) – A União Europeia quer definir até final do ano uma estratégia de apoio reforçado a Cabo Delgado, província do norte de Moçambique com uma crise humana devido a um conflito armado entre forças de segurança e rebeldes.
“Existe já trabalho para termos uma estratégia que há de estar finalizada antes do fim do ano”, referiu o embaixador da UE em Moçambique, António Sánchez-Benedito Gaspar, após uma reunião em Maputo dedicada ao papel da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) de Moçambique.
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, que tutela o organismo, e dirigentes da ADIN apresentaram os planos aos representantes da UE e Estados-membros em Moçambique, numa reunião à porta fechada.
Há urgência em estabelecer “linhas de trabalho principais”, realçou Sánchez-Benedito Gaspar, acrescentando que há já um “mapeamento” com Estados-membros da UE e parceiros sobre a cooperação que cada qual pode promover na região.
“Queremos trabalhar, por exemplo, em infraestruturas, ainda mais, e fazê-lo também com outros parceiros”, como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Banco Mundial, referiu.
“Temos de criar polos e corredores de desenvolvimento de longo prazo em Cabo Delgado e em toda a região. Niassa e Nampula têm de fazer parte da estratégia”, acrescentou, numa referência às outras duas províncias do norte do país.
Além de “questões imediatas”, garantir segurança e ajuda humanitária, o representante da EU referiu que a reunião foi “muito importante” para se ter “também uma visão de futuro, de desenvolvimento integrado a longo prazo”, que passa por “oferecer oportunidades de trabalho, emprego, crescimento económico numa região de enorme potencial”.
Sánchez-Benedito Gaspar garantiu que Cabo Delgado vai ocupar “lugar central no novo ciclo de programação de ajuda ao desenvolvimento” que está a ser desenhado.
“Devido à magnitude e importância dos desafios e potencial, [Cabo Delgado] tem de estar no topo da nossa lista de prioridades para o país”, disse.
Sem se comprometer com números para o futuro, o diplomata referiu que 50 milhões de euros já estão a ser investidos pela UE e Estados-membros em Cabo Delgado, metade em apoio humanitário (resposta ao apelo de emergência da ONU e suporte já no terreno), outra metade em ações de desenvolvimento (como formação profissional ou reconciliação).
Celso Correia classificou o encontro como “mais um avanço” na troca de informação, após o lançamento da ADIN, a 31 de agosto, numa cerimónia liderada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, em Pemba, a capital provincial de Cabo Delgado.
“Há a dimensão de segurança e há a estratégia de desenvolvimento, que cabe a todas as instituições do Estado, mas com a ADIN a ganhar protagonismo agora, no que diz respeito à promoção do desenvolvimento integrado da região norte”, referiu.
Questionado sobre prazos para materialização de projetos, Celso Correia disse que os trabalhos “são para ontem”, mas é necessário “seguir procedimentos” e “trabalhar no sentido de acelerar esse processo o mais rápido possível”.
“Está em causa adaptar a nossa estratégia de desenvolvimento às adversidades. A palavra de ordem é adaptar para não parar o desenvolvimento do país” com “a segurança das populações como prioridade”, afirmou o ministro moçambicano.
A província de Cabo Delgado é há três anos alvo de ataques por grupos armados, alguns reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, mas cuja origem permanece em debate, provocando uma crise humana com mais de mil mortes e 250.000 deslocados internos.
Estima-se que 374.000 pessoas tenham sido ainda afetadas em 2019 e no início de 2020 por intempéries e inundações, com destaque para o ciclone Kenneth, em abril do último ano, que provocou 45 mortos e arrasou diversas povoações, deitando por terra inúmeras infraestruturas públicas, como escolas e unidades de saúde.
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