Ucrânia: EUA acusam Rússia de tentar “sistematicamente” apagar identidade de crianças ucranianas

Nações Unidas, 04 dez 2024 (Lusa) – Os Estados Unidos acusaram hoje a Rússia de “procurar sistematicamente apagar” a identidade de crianças ucranianas deportadas à força para solo russo, anunciando mais sanções para cinco autoridades envolvidas, segundo Washington, em abusos dos direitos de menores ucranianos.

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) convocada pelos Estados Unidos da América (EUA) para discutir os efeitos da guerra sobre as crianças na Ucrânia, a embaixadora norte-americana junto da organização recordou que as forças russas são acusadas de “roubarem crianças ucranianas” e de as enviarem para territórios ocupados por Moscovo ou as deportarem para a própria Rússia, “onde todos os vestígios delas são frequentemente obscurecidos”.

“As forças da Rússia atribuíram a essas crianças ucranianas novos nomes russos, passaportes russos e submeteram-nas a programas russos de doutrinação ‘militar-patriótica’. Puniram crianças por falar ucraniano, mentiram-lhes sobre o destino das suas famílias e comunidades e forçaram-nas a adoções com famílias russas”, denunciou Linda Thomas-Greenfield.

“Noutras palavras, a Rússia tem procurado sistematicamente apagar a identidade dessas crianças”, acusou.

Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de captura contra o Presidente russo, Vladimir Putin, e a sua comissária para a proteção das crianças, Maria Lvova-Belova, pela deportação em massa de menores ucranianos das zonas ocupadas da Ucrânia para território russo, o que constitui um crime de guerra.

Além disso, a Rússia surge no relatório anual do secretário-geral da ONU sobre Crianças e Conflitos Armados, nomeadamente por violações contra menores, incluindo assassínios e mutilações e ataques a escolas e hospitais, sublinhou Linda Thomas-Greenfield no encontro.

Nesse sentido, os EUA assumiram continuar empenhados em pressionar pelo retorno seguro das crianças ucranianas e em obter responsabilização, tendo a embaixadora norte-americana anunciado que o Departamento de Estado aplicará restrições de visto a “mais cinco autoridades apoiadas ou instaladas pela Rússia, pelo seu envolvimento em abusos de direitos humanos de crianças ucranianas em conexão com sua deportação, transferência e confinamento forçados”.

Na reunião de hoje esteve também presente Nathaniel Raymond, em representação da Escola de Saúde Pública de Yale, instituição que na terça-feira divulgou um estudo que aponta que a Rússia submeteu pelo menos 314 crianças ucranianas a um programa de adoção forçada desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.

A investigação identificou 166 crianças já adotadas por cidadãos russos e outras 148 inscritas em bases de dados dirigidas pelo Governo russo, como parte de uma operação “sistemática, intencional e generalizada” e que é descrita como uma tentativa de “russificação” dos menores.

Numa visão mais ampla sobre o efeito da guerra nas crianças ucranianas, a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, indicou que foram registadas mais vítimas infantis durante os primeiros nove meses deste ano do que durante todo o ano de 2023.

No total, a ONU verificou que pelo menos 2.406 crianças foram mortas ou feridas desde fevereiro de 2022 — início da invasão russa em grande escala -, numa média de duas crianças por dia.

“Esses são apenas os números verificados pela ONU. Sabemos que o número real é muito maior”, admitiu Catherine Russell.

“Na Ucrânia, a guerra está a destruir a vida das crianças. Ela forçou muitas famílias e crianças a uma vida subterrânea devido ao risco contínuo de ataques. As crianças passam até seis horas todos os dias abrigadas em porões e outros espaços húmidos e escuros sob sirenes de ataque aéreo estridentes, temendo pelas suas vidas”, sublinhou a líder da UNICEF.

Ainda na reunião de hoje, a Ucrânia fez-se representar por Daria Zarivna, a diretora de operações da ‘Bring Kids Back’, iniciativa do Governo ucraniano que visa recuperar as crianças ucranianas deportadas e transferidas à força pela Rússia, e que afirmou que “um dos capítulos mais horríveis e horripilantes” da invasão russa são os crimes contra crianças ucranianas, incluindo “assassínios, tortura, violência sexual, assim como a destruição da vida familiar, lares, escolas e da segurança”.

Presente na mesma reunião, o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, argumentou que as ações de Moscovo representam uma retirada humanitária de crianças de zonas de conflito em conformidade com a lei internacional de direitos humanos, justificação que foi duramente criticada por Kiev.

 

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