Lisboa, 31 mar 2021 (Lusa) — As quantidades de cocaína e haxixe apreendidas aumentaram em 2020, mas globalmente o tráfico de droga diminuiu 34,2%, em comparação com 2019, indica o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).
Segundo o documento, hoje entregue no parlamento, no ano passado foram apreendidas 35,3 toneladas de haxixe, o que representa um aumento de 593% em relação a 2019 e 10,1 toneladas de cocaína (mais 4%).
Em contrapartida, as autoridades apreenderam 42,2 quilos de heroína, ou seja, menos 3,8 quilos do que em 2019 (-7,3%) e menos 11.809 comprimentos de ecstasy (-52,1%) do que do que em 2019.
Do total de 4.048 suspeitos identificados por tráfico de droga, foram detidas 3.021 pessoas – 2.742 homens e 279 mulheres, um valor que também baixou 42,1%. De entre os detidos, 401 tinham menos de 21 anos.
Quanto aos meios de transporte utilizados para o tráfico, o relatório refere que cerca de 59% da heroína apreendida foi traficada por via terrestre, enquanto 82% da cocaína e 67% do haxixe foram transportados por via marítima. No tráfico de comprimidos de ecstasy foram utilizadas, essencialmente, as vias terrestre e postal (92%).
Segundo o RASI, a situação pandémica, devido à covid-19, e as medidas implementadas perturbaram os circuitos e as dinâmicas do tráfico de droga, “originando quebras significativas, exceto no tráfico por via marítima”.
As organizações têm vindo a adaptar-se a esta nova realidade e utilizam novos ‘modi operandi’ para fazer chegar o produto aos consumidores, nomeadamente, através de “mercados ‘online’, plataformas digitais, redes sociais e serviços de entrega rápida”.
Numa análise aos dados das apreensões dos quatro principais tipos de drogas ilícitas, que são consumidas e traficadas em Portugal, podem verificar-se alterações significativas, tendo sido registados menos casos de apreensão de todo o tipo de drogas.
O tráfico é uma das principais áreas de atuação do crime organizado, designadamente no espaço europeu e Portugal é um país de destino de vários tipos de drogas para abastecimento dos circuitos internos, funcionando como uma plataforma de trânsito de elevadas quantidades de haxixe provenientes de Marrocos, e de cocaína proveniente da América Latina.
Segundo o relatório, “a posição geográfica de Portugal, aliada a especiais relações com alguns países da América Latina, nomeadamente o Brasil, favorece o trânsito de grandes quantidades de haxixe e de cocaína”.
As estruturas criminosas, altamente organizadas, contam com o apoio logístico de células em território nacional que facilitam a introdução da droga no espaço europeu.
O RASI sublinha que se registou um aumento do transporte entre a costa marroquina e a costa sul de Portugal e aumento do haxixe por via marítima, tendo sido identificadas “lanchas rápidas, utilizadas por organizações radicadas em Espanha, no transporte entre a costa marroquina e a costa espanhola”.
As autoridades referem que Portugal não é um país de produção, exceto de canábis, tendo sido detetadas e desmanteladas organizações criminosas de origem asiática, que se dedicavam a plantações de dimensão considerável, destinadas à exportação.
Portugal registou em 2020 “os mais baixos índices” de criminalidade desde que existe o relatório, com a criminalidade geral a diminuir 11% face a 2019 (de 335.614 para 298.797 participações) e a criminalidade violenta e grave a registar uma descida superior a 13%, tendo havido menos 1.929 participações (14.398 para 12.469), dados aos quais não é alheia a situação pandémica que se vive no país há um ano.
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