Nações Unidas, 19 dez 2024 (Lusa) — O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu hoje ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que “se evite a todo custo” a integração da Inteligência Artificial nas armas nucleares, algo que poderia ter “consequências potencialmente desastrosas”.
“A Inteligência Artificial sem supervisão humana deixaria o mundo cego e colocaria a paz e a segurança globais num lugar perigoso e imprudente”, disse Guterres numa intervenção no Conselho de Segurança, durante uma sessão ministerial presidida pelo secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, sobre os desenvolvimentos da Inteligência Artificial e as suas implicações para a segurança global.
Os Estados Unidos detêm este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança.
Na mesma intervenção, o secretário-geral da ONU sublinhou que, embora a Inteligência Artificial esteja a fazer “uma diferença positiva” em países que sofrem de conflitos, de insegurança alimentar ou nos efeitos das alterações climáticas, também entrou “no campo de batalha de uma forma mais problemática”.
Guterres realçou que os recentes conflitos se tornaram um campo de ensaio para as aplicações militares da Inteligência Artificial, o que “cria um terreno fértil para mal-entendidos, erros de cálculo e erros”.
O secretário-geral da ONU exemplificou que a Inteligência Artificial já foi utilizada para selecionar alvos e tomar decisões “de vida ou de morte” e que os ciberataques com recurso a esta tecnologia “podem paralisar as infraestruturas críticas e os serviços essenciais de um país”
“Sejamos claros: o destino da humanidade nunca deve ser deixado nas mãos da ‘caixa negra’ de um algoritmo. Os seres humanos devem estar sempre no controlo da tomada de decisões, guiados pelo direito internacional, incluindo o direito internacional humanitário e os direitos humanos e os princípios éticos”, acrescentou.
Além dos efeitos na segurança internacional, Guterres destacou o perigo de a Inteligência Artificial criar “conteúdos muito realistas” que depois são divulgados na Internet e “manipulam a opinião pública, ameaçam a integridade da informação e tornam a verdade indistinguível da mentira”.
O ex-primeiro-ministro português referiu-se ao Pacto Digital Global das Nações Unidas, aprovado em setembro passado, que aborda o rápido avanço da Inteligência Artificial, e partilhou a sua intenção de financiar oportunidades inovadoras de relacionadas com esta tecnologia “onde for mais necessário”.
“Um mundo de quem tem e de quem não tem Inteligência Artificial seria um mundo de instabilidade perpétua. Nunca devemos permitir que [esta tecnologia] conduza ao avanço da desigualdade”, sublinhou, frisando que a tecnologia deve estar “ao serviço de toda a humanidade”.
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