Os afegãos voltam às urnas para escolher o sucessor do presidente Hamid Karzai, entre Abdullah Abdullah e Ashraf Ghani, na segunda volta das presidenciais que os talibãs ameaçaram novamente sabotar este sábado.
Esta eleição representa a primeira passagem do poder entre dois chefes de Estado afegãos democraticamente eleitos e é considerada um teste para este país pobre, em parte controlado pelos rebeldes talibãs e a braços com um futuro incerto após a retirada da NATO, até final do ano.
O escrutínio marca também o fim da era Karzai, único homem a ter dirigido o Afeganistão desde a queda dos talibãs em 2001, afastados do poder pela coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos, que invadiu o país na sequência dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Hamid Karzai vai transmitir ao próximo presidente afegão as rédeas de um país profundamente transformado, em particular nas cidades, que se afastou com o regime obscurantista dos fundamentalistas talibãs, permitindo o nascimento de uma sociedade jovem, dinâmica, ambiciosa e cada vez mais voltada para o mundo.
O Afeganistão permanece em 2014 a registar uma série de problemas, desde a corrupção endémica, ao conservadorismo ainda forte, em particular nas zonas rurais, o cultivo florescente da papoila de ópio e, sobretudo, a violência persistente, apesar de 12 anos de intervenção militar ocidental.
De acordo com um relatório da missão da ONU no país (UNAMA), o número de vítimas civis – 2.959 mortos e 5.656 feridos – aumentou 14% no ano passado.
Radicalmente opostos às eleições, que afirmam ser comandada à distância por Washington, os talibãs prometeram multiplicar os ataques no dia da votação.
Na primeira volta, a 05 de abril, os talibãs foram incapazes, apesar dos ataques perpetrados, de impedir uma participação de mais de 50% do eleitorado. O chefe de operações do exército afegão, general Afzal Aman, afirmou recear que os fundamentalistas “tentem vingar-se” no sábado.
As forças de segurança afegãs garantem que realizaram operações, durante os últimos dois meses, por todo o país para fazer recuar os talibãs.
Esta segunda volta opõe dois antigos ministros de Karzar: Abdullah Abdullah, de 53 anos, antigo próximo do famoso comandante Massoud, venceu a primeira volta com 45% dos votos, e Ashraf Ghani, de 65 anos, um antigo responsável do Banco Mundial, obteve 31,6%.
Com mais de 13 pontos de vantagem, a vitória parece sorrir a Abdullah, que em 2009 abandonou a segunda volta da presidencial, denunciando fraudes maciças a favor de Hamid Karzai, mas agora mostra-se determinado, depois de ter sido alvo de uma tentativa de assassínio que fez 12 mortos na semana passada em Cabul e já avisou que só a fraude o impedirá de chegar à presidência.
As fraudes registadas na primeira volta não alteraram fundamentalmente os resultados, mas poderão ter um efeito devastador na segunda.
Os resultados provisórios do escrutínio deverão ser divulgados a 02 de julho, antes da promulgação definitiva prevista para 22 de julho.
O próximo presidente afegão será empossado a 02 de agosto, com uma questão para resolver: a assinatura do Tratado Bilateral de Segurança (BSA) com Washington, que permitirá a manutenção de um contingente norte-americano de cerca de 10 mil homens, depois da retirada dos 50 mil soldados da NATO, no final do ano. Até aqui, o presidente Karzai recusou assinar este acordo, mas Abdullah e Ghani disseram já estarem prontos a assinar o documento.