ORGANIZAÇÃO DENUNCIA EXTERMÍNIO DE TUBARÕES EM ANGOLA PARA VENDA DE BARBATANAS A CHINESES

Luanda, 22 set 2020 (Lusa) — Quantidades ainda por apurar de tubarões estão a ser exterminados, em Angola, para a retirada de barbatanas, que são supostamente comercializadas a cidadãos chineses, denunciou a EcoAngola, projeto filantrópico de educação e conservação ambiental.

Em declarações hoje à agência Lusa, a diretora executiva da EcoAngola, Érica Tavares, disse que receberam as primeiras denúncias, de várias pessoas, no dia 12 de setembro sobre esta situação no município de Cacuaco, província de Luanda, capital de Angola, mas sem imagens.

“Mas depois conseguimos que alguém nos enviasse algumas imagens e enviaram as primeiras fotos que foram tiradas em Cacuaco, Luanda”, contou.

Segundo Érica Tavares, na denúncia “constatou-se que realmente estavam a ser pescados muitos tubarões propositadamente e para apenas remover as barbatanas”.

“Alguns dias depois, dia 17 de setembro, acabamos por receber uma denúncia similar, mas desta vez em Benguela, que foi o vídeo mostrado e que também, de acordo com os relatos da pessoa que enviou a denúncia e de acordo com as testemunhas, é que os pescadores já têm feito isto ultimamente, que tem sido uma prática comum”, acrescentou.

Érica Tavares referiu que as testemunhas apontam que “são cidadãos de nacionalidade chinesa que têm feito esta compra”.

“E sabemos que isto é um produto exótico na Ásia, que têm feito aquela sopa de barbatana de tubarão, porque acredita-se que tem benefícios medicinais, poderes afrodisíacos, enquanto que na realidade isto é mito, não é comprovado cientificamente que isto cause isso, mas como há um mercado muito grande na China acreditamos que isto esteja a ser exportado para a China”, frisou.

A EcoAngola, projeto que existe há um ano, com 100 membros ativos, contactou o Instituto da Biodiversidade e Área de Conservação do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, que prometeu realizar uma investigação e emitir um comunicado público sobre a situação.

Face ao contexto atual que o país vive, devido à pandemia da covid-19, ainda não foi possível à EcoAngola colocar-se em campo para investigação, disse Érica Tavares, nesse sentido, passou a informação às instituições que têm esta responsabilidade.

Para a ambientalista, o problema em Angola é falta de fiscalização, que apenas ocorre depois de haver uma queixa e pressão social.

“E é isso que estamos a tentar fazer, fizemos a queixa, estamos a aguardar, mas vamos fazendo aquela pressão para podermos fazer com que as coisas aconteçam, poder haver uma investigação, uma resposta e dar conhecimento ao público”, sublinhou.

Instada a avançar uma estimativa de tubarões mortos nessa prática, Érica Tavares disse que não consegue adiantar quantidades, mas enfatizou que “é muito mesmo”.

“E esta quantidade de pesca excessiva de tubarões pode causar um grande desequilíbrio na flora e na fauna marinha, porque os tubarões são predadores e eles conseguem controlar as populações de outros tipos de espécies que estão abaixo dos tubarões e se houver esse desequilíbrio as outras populações podem crescer muito”, realçou.

“Podem, por exemplo, vir a crescer muitas algas ou muitas plantas que são controladas por outros peixes controlados por tubarões, isto pode acontecer, que é o efeito de cascata”, ajuntou.

As províncias de Luanda e Benguela são as apontadas como estando a registar este crime ambiental, mas a diretora executiva da EcoAngola acredita que possa estar a ocorrer em toda a costa, “onde existir tubarões e onde houver essa busca”.

“Antigamente os pescadores nem queriam saber dos tubarões, aquilo era azar quando os tubarões entravam nas redes, eram logo largados, mas agora como há esta procura e também a necessidade, a pobreza em Angola está a aumentar, e se há esta ‘fezada’ [sorte] o tubarão é pescado, porque também não há esse entendimento público desse equilíbrio da fauna e flora marinha”, referiu.

Relativamente ao resto do animal, depois de retiradas as barbatanas para comercializar, a um preço que a ambientalista desconhece, as testemunhas referiram que é descartado.

“Mas não acredito que isso seja uma possibilidade muito realista, porque sabemos que esta situação da pobreza realmente está muito agravada e eu não acredito que os pescadores simplesmente deitem fora aqueles restos de peixe, acredito sim que devam consumir o peixe”, disse.

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