Lisboa, 23 mar 2021 (Lusa) — O antigo presidente do BES Vítor Bento disse hoje que nunca lhe “passou pela cabeça” que o Banco de Portugal pudesse ter dado a garantia de uma possível linha de capitalização pública sem a ter articulado com o Governo.
Vítor Bento está hoje a ser ouvido na comissão eventual de inquérito parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, tendo sido questionado pelo deputado do PS Miguel Matos sobre as declarações, na última comissão de inquérito sobre o BES, a propósito da informação que havia recebido de que a linha de capitalização pública estaria disponível, pretendendo o socialista saber se esta “foi substanciada de alguma forma, designadamente por referência a uma disponibilidade do Governo”.
“Nunca fomos informados de qualquer envolvimento do Governo na decisão em si. Aquilo que o Banco de Portugal nos disse, disse publicamente inúmeras vezes”, respondeu, recordando um último comunicado do supervisor, datado de 30 de julho de 2014, mas que veio a público já a 31, no qual voltou a reiterar esse princípio.
De acordo com o antigo presidente do Novo Banco, nunca lhe “passou pela cabeça” que o Banco de Portugal “pudesse dar uma garantia pública desse teor sem ele próprio ter articulado com o Governo essa ideia”, já que esta seria uma decisão política.
Assim, Vítor Bento assumiu sempre que a garantia dada publicamente “estaria devidamente articulada e, portanto, estaria segura”.
“Foi com muita surpresa, quando no dia 30 de julho ao final da tarde, quando fomos ao Banco de Portugal conversar sobre os resultados que tinham sido apresentados nesse dia e exprimir a conveniência de que houvesse um ‘backstop’ do Governo ou que o Governo se dispusesse a dar a uma garantia nomeadamente sobre a sua posterior capitalização, que o Banco de Portugal nos tivesse dito que isso era um assunto que nós teríamos que discutir com o Governo e que o Banco de Portugal não seria parte nessa conversa”, revelou.
De acordo com o presidente que sucedeu a Ricardo Salgado no BES, a necessidade de capitalização rápida foi transmitida pelo Banco de Portugal “numa carta escrita a 29” de julho, que dava ao banco “dois dias para responder, o que era um prazo impossível”.
“Nós respondemos a essa carta e eu fiquei surpreendido na última comissão de inquérito nunca ninguém querer ter sabido a nossa resposta. Fiquei surpreendido”, assumiu.
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