Novo Banco: Consultoras “são poucas” e auditoria “devia ser mais” independente – ex-diretor BdP

Lisboa, 26 mar 2021 (Lusa) – O antigo diretor de supervisão do Banco de Portugal (BdP) Carlos Albuquerque disse hoje no parlamento que as quatro grandes consultoras “são poucas” e que o processo de auditoria no mundo financeiro “devia ser mais” independente.

Questionado na sua audição na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, pelo deputado Duarte Alves (PCP), se “faz sentido as mesmas entidades poderem prestar consultoria e auditoria externa em nome do supervisor”, Carlos Albuquerque, refletiu sobre o tema.

“É um tema que me percorre a cabeça permanentemente”, admitiu, referindo que “há uma questão muito relevante, que é o facto de serem poucas”, acrescentando que “as grandes instituições têm uma das ‘big four’ e não saem das ‘big four'”, as quatro grandes consultoras mundiais: Deloitte, KPMG, PwC e EY.

Realçando que “não é só cá em Portugal, é em geral”, questionando-se Carlos Albuquerque “se não deveriam existir mais” e “o que é que se deveria fazer para o mundo não ficar limitado a estas ‘big four'”.

“Devia haver uma grande separação entre atividades, mas é um tema que não tenho resposta. Penso que é um tema relevante na supervisão financeira, penso que é um tema relevante em geral, nas empresas cotadas, na sociedade”, prosseguiu.

No seu entender, “o tema relevante é como é que se consegue atingir um nível de independência que seja mais satisfatório do que é, pelo menos, nesta altura”.

“Tem sido independente, mas eu acho que devia ser ainda mais”, disse, admitindo, porém, não saber “como é que se faz” para atingir tal objetivo.

O tema surgiu depois de durante a audição ter sido discutida a saída do antecessor de Carlos Albuquerque na supervisão do BdP (esteve no cargo entre 2014 e 2017), Luís Costa Ferreira, para a consultora PwC, bem como de Pedro Machado, que fez o mesmo percurso.

Ao deputado Miguel Matos (PS), defendeu que uma situação como aquela deve compreender um ‘período de nojo’.

“Se me perguntar se acho que a saída de um banco central para uma entidade que supervisiona ou que faz esse tipo de trabalhos deveria exigir um período de nojo? Acho que sim”, referiu.

No entanto, no caso concreto de Costa Ferreira e Machado, disse que não iria “julgar”, e “naquele tempo não foi tema”.

Questionado pelo deputado socialista se a PwC “tinha condições para fazer uma avaliação independente do balanço de abertura do Novo Banco quando tinha acabado de roubar dois grandes arquitetos da resolução” do BES, Albuquerque considerou “que isso pode subjetivamente levar a um tipo de interpretação dessa natureza”.

“Acho que, apesar de tudo, tinha e continua a ter” capacidade, admitindo “que do ponto de vista de independência, o pudesse fazer de forma independente”.

À deputada Mónica Quintela (PSD), Carlos Albuquerque disse ainda que a mudança de funções não “põe em causa a atuação da pessoa” naquele caso concreto.

“Conheço bem a pessoa [Luís Costa Ferreira], não vejo que tenha posto”, disse.

Luís Costa Ferreira e Pedro Machado acabaram por regressar ao Banco de Portugal posteriormente.

JE // MSF

Lusa/Fim