Maputo, 10 jun 2020 (Lusa) – Mais de sete mil pescadores artesanais fugiram das zonas atacadas por grupos armados na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, comprometendo a produção pesqueira deste ano, anunciou a ministra do Mar, Pescas e Águas Interiores, de visita àquela região.
Augusta Maíta, citada hoje pelo diário Notícias, disse que os pescadores abandonaram a atividade em Palma, Mocímboa da Praia, Macomia e Ibo, os distritos de maior atividade piscatória em Cabo Delgado, devido à ação de grupos armados.
Para este ano, previa-se que Cabo Delgado atingisse uma produção pesqueira de 37 mil toneladas, mas a violência armada naqueles distritos poderá impedir o alcance dessa cifra, referiu.
“Os pescadores fugiram dos locais onde exerciam a atividade, procurando zonas mais seguras”, sublinhou.
Para compensar a perda de produção nos distritos atingidos pela insegurança, o Governo vai concentrar apoios à atividade pesqueira na capital provincial, Pemba, e nos distritos vizinhos de Mecúfi e Metuge.
“A ideia é mudarmos de abordagem e olharmos para estes distritos, cuja contribuição não era significativa, talvez porque nunca demos maior atenção no que diz respeito aos investimentos”, afirmou a ministra do Mar, Pescas e Águas Interiores.
De acordo com a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, na sigla inglesa), que agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária, a violência armada em Cabo Delgado e o terceiro ano de seca no sul do país devem prevalecer como principais causas de insegurança alimentar em Moçambique nos próximos meses, agravada pela covid-19.
No caso de Cabo Delgado, “prevê-se um aumento do número de famílias deslocadas e espera-se que muitas delas necessitem de assistência alimentar humanitária de emergência”.
Cabo Delgado, província moçambicana onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
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