Redação, 09 set 2020 (Lusa) — A Amnistia Internacional exigiu hoje uma ação europeia imediata face a “emergência humanitária” no campo de refugiados de Moria, destruído esta madrugada por um incêndio, atribuindo às “políticas imprudentes” da União Europeia o desencadear da atual situação.
“As políticas imprudentes da União Europeia (UE) levaram a condições de vida perigosamente sobrelotadas e miseráveis, com o campo [de Moria] a acolher mais do quádruplo [de pessoas] da sua capacidade prevista”, afirmou a investigadora de Amnistia Internacional (AI) Adriana Tidona, numa reação ao incêndio no campo localizado na ilha grega de Lesbos (no mar Egeu), que destruiu praticamente todo o local e deixou cerca de 13.000 pessoas desalojadas.
Numa nota enviada às redações, a investigadora da AI para a área das Migrações defendeu que as autoridades gregas, a UE e os Estados-membros do bloco comunitário “devem agir imediatamente para garantir a segurança de todas as pessoas afetadas”.
Entre as medidas necessárias deve “aumentar os esforços de realocação” e “transferir as pessoas para alojamentos mais seguros”, uma vez que isso “é agora mais urgente do que nunca”, afirma.
“Existe neste momento uma emergência humanitária em Lesbos. Durante a noite, quase 13.000 pessoas no campo de refugiados de Moria perderam o escasso abrigo e saneamento que tinham. Já tinham suportado deixar as suas vidas, casas e bens quando fugiram para a Europa. Agora, este incêndio destruiu provavelmente tudo o que lhes restava, incluindo documentos essenciais, artigos pessoais e medicamentos”, prosseguiu a representante.
Adriana Tidona reforçou: “Quando a UE lançar o seu novo Pacto sobre Migração e Asilo, deve ter em conta que a sua política atual para os campos de refugiados fracassou”.
Cerca de cinco anos após a crise migratória que atingiu a Europa entre 2015 e 2016, considerada então a maior das últimas sete décadas, os países da UE ainda não conseguiram alcançar um consenso sobre as questões migratórias, nomeadamente sobre a reforma do sistema europeu comum de asilo e a distribuição dos requerentes de asilo.
É expectável que a Comissão Europeia apresente em breve uma proposta, muito aguardada e entretanto várias vezes adiada, para uma reforma da política de migração e asilo na UE.
Fontes citadas pelos ‘media’ internacionais durante o verão indicaram que poderia ser em setembro.
A investigadora da AI também mencionou que este incêndio ocorreu numa altura em que casos da doença covid-19 foram detetados naquele campo de processamento e de acolhimento para migrantes e refugiados, também conhecidos como ‘hotspots’.
“Esta tragédia acontece depois de pelo menos 35 requerentes de asilo terem testado positivo à covid-19 em Moria, onde o distanciamento social é impossível e o saneamento básico é inadequado”, afirmou Adriana Tidona.
A investigadora ainda criticou a estratégia adotada pelo Governo da Grécia no campo de refugiados de Moria, considerado um dos maiores e com piores condições da Europa.
“O Governo grego reagiu e colocou todo o campo em quarentena, (…) essa medida não deveria ter sido aplicada, devido às difíceis condições de vida dos residentes”, disse a representante, concluindo que os direitos básicos destas pessoas ficaram “bastante afetados”.
O Governo grego anunciou hoje que vai declarar estado de emergência na ilha de Lesbos, na sequência do incêndio.
De acordo com os relatos disponíveis, o incêndio começou por volta da meia-noite e não existem informações, até ao momento, de possíveis vítimas mortais.
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