Literatura: Luso-canadianos lançam livro de histórias sobre avós e netos

A Casa do Alentejo em Toronto celebrou, no passado dia 8 de setembro, o Dia dos Avós, com a apresentação do livro ‘Avós e Netos – Uma Viagem de Afetos’. A obra destaca os laços familiares intergeracionais, reunindo 60 histórias de 60 autores.

O evento foi organizado pelo núcleo de leitura da Casa do Alentejo de Toronto, em colaboração com a Associação de Mulheres Migrantes do Ontário.

Manuela Marujo, professora e uma das organizadoras do projeto, falou ao Correio da Manhã Canadá (CMC) sobre o processo de seleção das narrativas, adiantando que já foram feitas compilações semelhantes no passado.

“Para estas narrativas, há pessoas que nos dizem que têm uma história bonita para contar. Outras vezes, somos nós que conhecemos algumas realidades e achamos interessante que essa história seja partilhada”, contou ao nosso jornal.

“Há um grande círculo de pessoas que de facto fica muito contente por ter a oportunidade de falar sobre os seus netos ou sobre as suas experiências como avô ou avó”, adiantou.

Clara Abreu, jornalista, partilhou as suas vivências enquanto avó de cinco netos, que classifica como “os dedos de uma mão”. Durante o evento, Clara leu um excerto da sua história: “Tardes de domingo. O ‘pipocar’ no micro-ondas, o ‘corre corre’ pela sala, os brinquedos espalhados pelo chão, os risos contagiantes. Pode nevar lá fora, fazer frio. Cá dentro, um doce calor e muito sol.”

Em entrevista ao nosso jornal, Clara explicou que os seus cinco netos foram retratados “naquilo que é mais singular em cada um deles”.

“Um é mais voltado para a tecnologia, outra mais sonhadora, outro mais brincalhão, outro mais intelectual, e um pequenino que, agora em Portugal, por vezes se sente um bocadinho perdido com a mistura das duas línguas, mas que sei que em breve vai dominar tudo isso”, descreveu.

“Todos eles, apesar de diferentes, são muito carinhosos e muito meus amigos. Sinto um grande orgulho de todos eles e espero continuar a poder ser a avó que prometi ser no dia em que cada um deles nasceu”, acrescentou Clara Abreu.

Carl Cassell, construtor civil, também partilhou as suas memórias sobre o avô, mesmo sem o ter conhecido pessoalmente. Num excerto lido durante o evento, Carl recordou: “Em criança, lembro-me de um grande retrato a preto e branco dele na nossa sala, vestido de fato. O meu pai dizia-me que essa fotografia foi tirada nos anos 1920, quando ele estava em Harlem.”

Já ao CMC, Carl descreveu a sua narrativa como uma “coleção de memórias”.

“O modo como o meu pai falava dele fazia parecer que ele estava sempre presente, de uma forma digna e admirável. Não o conheci, mas sinto que o conheço muito bem”, confessou.

Carmem Carvalho, coordenadora do núcleo de leitura da Casa do Alentejo, também contribuiu para o livro com histórias sobre a sua experiência.

“Em geral, é um resumo de 21 anos de ser avó. Os meus netos vivem comigo, por isso acompanhei-os desde pequenos e continuo a acompanhar”, começou por dizer ao CMC.

“São muitas horas de alegria, mas também alguns desafios. Mas cada história, por mais atribulada que seja, tem sempre um lado bom. Há sempre um episódio bem-humorado que, mais tarde, recordamos e dizemos: afinal, não foi assim tão mau”, confessou.

Presente no evento, Ana Luísa Riquito, cônsul-geral de Portugal em Toronto, destacou a importância de preservar a língua portuguesa no Canadá. “É um grande desafio aqui no Canadá, porque entre a prioridade que a comunidade conferiu à necessidade de arranjar um modo de vida e a hegemonia do inglês, o português ficou para trás”, disse ao CMC.

Contudo, Ana Luísa Riquito mostrou-se otimista, dando conta de “um renovado interesse no português”.

“As jovens gerações de luso-descendentes estão a levar cada vez mais longe os seus estudos, e, por isso, temos aqui uma janela de oportunidade para promover o regresso à língua portuguesa. Não interessa necessariamente apenas ler e estudar Camões. Há muitas maneiras de honrar, falar e escrever a língua portuguesa”, considerou.

Após a exposição das histórias, foi servido um tradicional ‘chá das cinco’, acompanhado de biscoitos.