Pequim, 23 dez 2024 (Lusa) — Cientistas chineses e norte-americanos analisaram como um aumento maciço das emissões de carbono há 56 milhões de anos alterou a química dos oceanos, oferecendo pistas sobre os efeitos das atuais alterações climáticas.
A equipa, composta por especialistas da Universidade de Pequim e da Universidade Estatal da Pensilvânia, reconstruiu o estado da acidificação dos oceanos durante o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês), um evento caracterizado pelo aumento das temperaturas globais e pela alteração dos ecossistemas.
Os resultados revelaram semelhanças entre a acidificação durante o PETM e as tendências atuais, causadas pelo aumento do dióxido de carbono na atmosfera terrestre.
De acordo com o estudo, recentemente publicado na revista científica Nature Geoscience, um aumento maciço das emissões de carbono durante o PETM levou a uma redução do pH oceânico, diminuindo a disponibilidade de iões de carbonato, essenciais para a formação de conchas nos organismos marinhos.
Esta redução afetou diretamente a capacidade dos oceanos para armazenar carbono.
Utilizando dados paleoclimáticos combinados com simulações de modelos do sistema terrestre, os investigadores estimaram que os níveis de dióxido de carbono atmosférico aumentaram de 890 para 1.980 partes por milhão durante o PETM, o que implica uma diminuição média do pH dos oceanos de 0,46 unidades.
Li Mingsong, professor da Universidade de Pequim, citado no domingo pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua, observou que esta diminuição do pH durante o PETM se assemelha às atuais projeções em cenários de emissões elevadas.
No entanto, ele sublinhou que a atual taxa de emissões de carbono é muito mais rápida do que nessa altura, o que representa uma “séria ameaça” para os ecossistemas marinhos e a biodiversidade.
O perito salientou que o PETM, que durou cerca de 200 mil anos, serve de “análogo natural das possíveis consequências das emissões descontroladas de carbono atualmente”.
No entanto, as emissões aceleradas de hoje representam “um perigo maior e a mais longo prazo” para a vida marinha, especialmente em “regiões vulneráveis como o Ártico”, acrescentou.
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