Lisboa, 21 dez 2020 (Lusa) — A Comissão de Trabalhadores (CT) da Galp disse à Lusa que vai contestar a decisão da empresa de concentrar a refinação em Sines e descontinuar a operação em Matosinhos e pedir, novamente, a intervenção do Governo.
“A nossa intenção é contrariar. Vamos discutir. Vamos reunir com os sindicatos e convocar o Governo, como temos feito desde 24 de abril. Alertámos, desde essa altura, o Governo e o Presidente da República, [Marcelo Rebelo de Sousa], para as consequências que a distribuição de dividendos iria ter num contexto de pandemia. Não tivemos resposta”, afirmou Hélder Guerreiro da CT da Galp, em declarações à agência Lusa.
Este responsável disse que os trabalhadores souberam desta decisão pelas 09:00 de hoje, sublinhando que a petrolífera liderada por Carlos Gomes da Silva não deu quaisquer garantias em relação aos postos de trabalho.
Em causa estão 500 postos de trabalho diretos e 1.000 indiretos.
“Disseram que estavam a estudar e a avaliar a situação, mais nada”, referiu.
Apesar de concordar que houve uma redução do consumo de combustíveis e um consequente impacto económico, devido à pandemia de covid-19, Hélder Guerreiro vincou que as contas da empresa, referentes ao terceiro trimestre, mostram que todas as áreas totalizaram resultados positivos.
Já no que se refere ao impacto que a decisão da petrolífera vai ter na distribuição, a CT vincou que a Entidade Nacional para o Setor Energético (Ense) aumentou, em outubro, o nível de risco relativamente à distribuição de combustíveis, quando a refinaria parou.
Por outro lado, a CT lembrou que esta entidade adiantou, em setembro, que as margens de comercialização aumentaram 30% face a 2019, acima da média dos preços da União Europeia.
Num comunicado hoje divulgado, a Ense apontou que o fornecimento do mercado nacional, o aprovisionamento e a distribuição de combustíveis estão salvaguardados.
“Não se percebe o que é que mudou desde outubro para cá”, lamentou o porta-voz da CT da Galp.
A Galp vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano, anunciou hoje a empresa.
Num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Galp referiu que “continuará a abastecer o mercado regional mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos”, e que está a “desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo”.
A empresa disse que as “alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório e pelo contexto covid-19 originaram um impacto significativo nas atividades industriais de ‘downstreaming’ da Galp”, e afirma que “o aprovisionamento e a distribuição de combustíveis no país não serão impactados por esta decisão”.
Pelas 14:46, as ações da Galp cediam 5,74%, na bolsa de Lisboa, para 8,28 euros.
PE (SO) // JNM
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