Praia, 01 abr 2021 (Lusa) – O Presidente da República de Cabo Verde pediu hoje mais fiscalização às medidas de proteção à covid-19 no arquipélago, face ao crescente aumento de casos, sobretudo na Praia, admitindo a possibilidade de subida no nível de alerta.
“Creio que se justifica aumentar a fiscalização. As medidas tomam-se para ver se são cumpridas ou não pelas pessoas”, afirmou Jorge Carlos Fonseca, após reunir-se durante uma hora com o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, no palácio presidencial, na Praia.
O chefe de Estado sublinhou que “é um facto que o número de casos tem aumentado, particularmente na Praia”, mas também nas ilhas do Sal e da Boa Vista, com o país a ter registado na quarta-feira o recorde (desde o início da pandemia) de 191 novos casos de covid-19 num dia, ultrapassando os mil casos ativos (mais do dobro no espaço de um mês), o que coincide com um período de visível relaxamento de medidas de contenção da doença, nomeadamente aglomerações nas praias ou no uso de máscara na via pública, obrigatória por lei.
“Tem que haver algum tipo de medidas de fiscalização e de controlo”, afirmou.
De acordo com uma resolução do Conselho de Ministros que entrou em vigor em 19 de março, válida por 60 dias, todas as ilhas de Cabo Verde passaram a estar em situação de contingência — o segundo de três níveis previstos na lei que estabelece as bases da Proteção Civil em Cabo Verde –, implicando o alívio de várias restrições anteriormente impostas para travar a transmissão da doença.
“A situação, na grande maioria dos centros de saúde e dos hospitais, é de ocupação reduzida, com exceção da Praia, em que é necessário, face aos casos de internamento, a utilização de outros espaços, para além do hospital. E creio que a partir de hoje, amanhã, haverá a abertura de espaços, que já existiram, deixaram de ser ocupados, para dar algum vazão a uma situação já de alguma pressão sobre o Hospital Agostinho Neto [na Praia]”, disse Jorge Carlos Fonseca.
O Presidente da República e o ministro da Saúde anunciaram que o gabinete de crise do Governo, criado para lidar com a pandemia, vai reunir-se hoje, com Jorge Carlos Fonseca a pedir medidas e uma avaliação concreta do estado da pandemia, precisamente no dia em que arranca a campanha eleitoral para as eleições legislativas de 18 de abril.
“Sugeri que nessa reunião se pudesse fazer essa avaliação de pormenor e ver se se podem tomar medidas ainda mais consistentes, no quadro do estado vigente, que elas sejam tomadas. Mas sobretudo, a mim parece-me que não basta nós termos as medidas, ou anunciá-las, é preciso é que elas sejam cumpridas”, afirmou.
Para Jorge Carlos Fonseca, se com um aumento da fiscalização “continuar a haver incumprimento ou aumento de casos”, então “deve-se ponderar a adoção de medidas mais fortes”, dentro de cada nível de alerta, mas descartando para já o retorno ao estado de emergência, que o Presidente decretou, durante dois meses e diferenciado por ilhas, há um ano, que implicou o confinamento geral da população.
“Espero que não, ainda que não se possa dizer no nosso caso que não podemos banalizar o estado de emergência”, afirmou Jorge Carlos Fonseca, sublinhado tratar-se de um estado “excecional”, alertando que “pode criar vícios” e impedir o “bom funcionamento das instituições”.
“Pode não ser bom banalizá-lo”, disse, apelando à população para “ter noção” da situação epidemiológica em todo o país e cumprir as medidas definidas, para não colocar o sistema de saúde “sob pressão”.
Com o país a iniciar hoje duas semanas de campanha eleitoral, precisamente com o número de casos de covid-19 a crescer diariamente, Jorge Carlos Fonseca insistiu na responsabilidade dos partidos e das autoridades.
“Se as eleições são o sal da democracia, se o combate à epidemia não pode implicar um apagão da democracia, se as eleições são importantes, nada é mais importante do que preservar a vida e a saúde dos cabo-verdianos. Portanto, deve-se privilegiar os meios de campanha que evitem as aglomerações”, apelou, insistindo no pedido de reforço da fiscalização.
No final do encontro, o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, admitiu que “nos últimos 15 dias tem-se registado um aumento do número de casos” de covid-19 na Praia e remeteu qualquer decisão sobre eventual agravamento de medidas de restrição para a reunião do gabinete de crise.
“O Governo, em função dessa análise, comunicará à população aquilo que decidiu”, afirmou o ministro.
O arquipélago registava na quarta-feira 1.012 casos ativos de infeção — contra 397 em 01 de março – e somava 168 mortos por complicações associadas à doença, num total de 17.470 casos confirmados desde 19 de março de 2020, dos quais 16.277 já foram considerados recuperados.
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