Praia, 21 set 2020 (Lusa) – Os portos de Cabo Verde movimentaram praticamente 75.000 passageiros em agosto, o valor mais alto em cinco meses e uma subida de quase 50% face a julho, mas ainda abaixo do registo de 2019, devido à pandemia.
Segundo os dados mais recentes do relatório mensal de tráfego da Enapor, empresa pública cabo-verdiana responsável pela gestão dos nove portos do arquipélago, foram movimentados quase mais 25.000 passageiros em agosto, face ao mês anterior, acelerando a recuperação face ao confinamento da população em abril e maio, devido à pandemia de covid-19.
O relatório refere que foram contabilizados em todo o mês de agosto 74.919 passageiros nos transportes marítimos interilhas, um aumento de 49,4% face a julho.
Os dados do relatório apontam que apesar de se tratar do movimento mensal mais alto desde o início da pandemia, que levou à suspensão das ligações interilhas no final de março, o registo de agosto está 36,9% abaixo do valor do mesmo mês de 2019, ainda assim uma recuperação face a julho (49,4% abaixo do movimento homólogo de julho de 2019).
Do total de passageiros em agosto, 40,3% representou o movimento no Porto Grande e 34,4% no Porto Novo, respetivamente nas ilhas vizinhas de São Vicente e Santo Antão. O Porto da Praia, capital do país, registou uma quota de 6,7% do total, com um movimento de pouco mais de 5.061 passageiros, indica o relatório, a que a Lusa teve hoje acesso.
A CV Interilhas, liderada (51%) pela portuguesa Transinsular, detém a concessão do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga, durante 20 anos, sendo atualmente a única empresa a operar neste setor no arquipélago.
Ainda em agosto, os portos de Cabo Verde movimentaram 559 navios, um crescimento de 4,9% face a julho, mas ainda menos 18,8% tendo em conta os dados de 2019, enquanto o movimento de mercadorias desceu 14,2%, para 140.422 toneladas, valor que fica 46,78% abaixo em termos homólogos.
Desde 03 de setembro que os navios que garantem as ligações marítimas interilhas em Cabo Verde podem usar até 75% da lotação nas viagens superiores a três horas e meia, contra os 50% estipulados desde a retoma do serviço em maio, devido à pandemia de covid-19, conforme previsto numa resolução do Conselho de Ministros.
As alterações visam especificamente o transporte marítimo, alterando a definição anterior, que obrigava a que a lotação dos navios devia “respeitar o distanciamento social mínimo de 1,5 metros”, o que se traduzia, até agora, numa ocupação máxima de 50% da capacidade dos navios.
Aquando da aprovação desta resolução em Conselho de Ministros, em 27 de agosto, o Governo explicou que as alterações permitiriam às viagens interilhas com tempo de duração inferior a três horas e meia uma ocupação de 100%. A medida pretendia “manter a vigilância e reforçar as medidas de combate ao covid-19”, mas também “iniciar uma atividade gradual da retoma económica e circulação das pessoas entre as ilhas por via marítima”.
A administração da CV Interilhas admitiu em agosto perdas de 4,5 milhões de euros em 2020, devido à covid-19, necessitando de uma compensação financeira do Estado. A posição foi assumida em entrevista à Lusa por Paulo Lopes, administrador-executivo da CV Interilhas, a propósito do primeiro ano de atividade da empresa, admitindo que a pandemia teve “um grande impacto” na atividade, desde logo pela suspensão de todas as ligações interilhas de transporte de passageiros.
No início da crise sanitária, que levou Cabo Verde a entrar em estado de emergência no final de março, a CV Interilhas chegou a ter uma “redução de 80% da atividade”, mantendo apenas o transporte de carga e evacuações médicas, o que levou a parar três dos cinco navios da frota, colocando em regime de ‘lay-off’ 27 dos 155 trabalhadores que foram contratados.
Além do período de abril a maio sem transporte de passageiros e a retoma gradual das ligações entretanto iniciada, o administrador da CV Interilhas recordou que a empresa esteve obrigada a reduzir a lotação dos navios a 50%, como medida de prevenção da doença.
“Sendo a concessão [do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga] deficitária, passa a ser mais deficitária. Obviamente que isso não tem um impacto direto, porque há uma redução também de custos, nós implementamos um conjunto de medidas, nomeadamente chegamos a parar navios para reduzir os custos de operação”, disse o administrador, admitindo, contudo, que a subvenção do Estado, prevista no contrato de concessão, não será suficiente em 2020.
Essa compensação, que este ano deveria subir para 368 milhões de escudos (3,3 milhões de euros) é financiada através de receitas consignadas ao Fundo Autónomo do Desenvolvimento e Segurança dos Transportes Marítimos, que já antecipou uma parte do valor previsto em 2020.
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