Praia, 18 set 2020 (Lusa) – As autoridades de proteção civil da Praia alertaram hoje para a possibilidade de formação, nas próximas horas, de uma depressão tropical próxima do arquipélago cabo-verdiano, com possibilidade de novas chuvas fortes, apelando a medidas de autoproteção.
Em conferência de imprensa realizada hoje, ainda no rescaldo das fortes chuvas de sábado, que provocaram destruição, cheias, enxurradas e a morte de um bebé de seis meses na capital cabo-verdiana, o comandante dos Bombeiros Municipais da Praia, Celestino Afonso, apelou ao estado de “alerta” da população, “em termos de prevenção”.
De acordo com o responsável, há “indícios de formação nas próximas horas” de uma nova depressão tropical junto ao arquipélago, com possibilidade de repetição de novas chuvas fortes, de acordo com informação dos centros internacionais.
“Não tentem ficar em casa ao serem atingidas pelas cheias, para salvarem os bens. A vida está acima de qualquer bem material”, apelou Celestino Afonso, pedindo ainda à população para assegurar a limpeza das vias e canais de escoamento de águas.
Um dos maiores problemas, segundo as autoridades, é a construção informal, em leito de cheia, pelo que o apelo dos bombeiros, com a aproximação de nova tempestade, é claro: “Abandonando imediatamente as suas casas quando verificarem que não há controlo, quando forem atingidas pelas cheias”.
Segundo Celestino Afonso, a fixação da população em leito de cheia “eleva os riscos”, face à ocorrência de enxurradas, cheias, deslizamento de terras ou queda de blocos e de muros, como aconteceu na madrugada do passado sábado, na Praia.
O apelo feito pelo comandante dos Bombeiros Municipais da Praia vai ainda no sentido de garantir desde já o pedido das populações em zonas de risco para realojamento “em sítios mais seguros até que se arranjem melhores soluções”.
Celestino Afonso garantiu que decorrem trabalhos de limpeza de vias públicas e de recuperação dos estragos provocados pelas últimas chuvas, que surgiram depois de praticamente três anos de seca em todo o arquipélago.
Mais de 150 moradores em bairros da cidade da Praia afetados pelas cheias e enxurradas provocadas pelas fortes chuvas de sábado tiveram de ser deslocadas e realojadas no Estádio Nacional, divulgou hoje a câmara da capital cabo-verdiana.
“Hoje estão já mais de 150 pessoas realojadas no Estádio Nacional e totalmente dependentes da solidariedade de todos”, reconheceu a autarquia, que está a coordenar a campanha de recolha de apoios para estas famílias, numa nota a que a Lusa teve acesso.
Dados oficiais indicam que o cenário vivido durante a madrugada do passado sábado na Praia resultou de chuvas intensas que ultrapassaram a média anual dos últimos 30 anos na capital.
A autarquia da Praia alertou, entretanto, que as previsões meteorológicas para o próximo fim de semana apresentam “uma tendência para uma chuva tropical nas proximidades do país”, estando a sensibilizar a população para os cuidados e proteção a ter.
O Governo cabo-verdiano já estimou que serão necessários investimentos de 258 milhões de escudos (2,3 milhões de euros) para “repor a normalidade” na Praia após as consequências das fortes chuvas de há uma semana.
O vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, admitiu, entretanto, a necessidade de recorrer ao apoio de parceiros internacionais para recuperar da destruição provocada na Praia pelas chuvas.
Na quinta-feira, de visita aos bairros da capital mais afetados pelas cheias, enxurradas e destruição provocada pelas fortes chuvas, em que acabou por morrer um bebé de seis meses, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, pediu medidas “mais firmes” para travar a construção informal em encostas e linhas de água, juntamente com políticas de ordenamento do território.
“Devemos trabalhar mais, trabalhar melhor, para que possamos transformar o Cabo Verde que temos hoje, no sentido de ser um país mais igual, mais justo, com menos desigualdades sociais. Há ainda muita pobreza neste país, nesta capital. É um desafio para nós todos”, alertou o chefe de Estado, ao constatar os efeitos das recentes chuvas na Praia.
As cheias provocaram a destruição de casas, vias de comunicação e aluimento de terras, afetando sobretudo as zonas mais pobres e de construção informal.
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