São Paulo, Brasil, 10 dez (Lusa) – A Amazónia brasileira tem 453 áreas de garimpo ilegal de ouro, de acordo com um mapa inédito apresentado hoje pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg).
Em todo o território da Amazónia, que se estende por nove países da América do Sul, foram detetados pelo menos 2.312 garimpos ilegais, de acordo com os dados recolhidos em seis desses países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela).
O mapa foi construído a partir de informações de diferentes fontes, tais como estudos publicados, informações de parceiros locais, notícias de imprensa e análises de imagens de satélite.
No Brasil, imagens de satélite identificaram garimpos em áreas protegidas como Unidades de Conservação e Terras Indígenas.
As análises identificaram que entre 6.207 territórios indígenas dentro do bioma amazónico, 78 apresentam atividades garimpeiras no seu limite ou nas proximidades. Dessas 78 áreas, a maioria (64) estão localizadas no Peru.
Com relação às terras indígenas com garimpo ilegal dentro de seus limites, o Brasil lidera com 18 casos entre os 37 identificados. Em relação às atividades de balsas em rios nesses territórios, a Colômbia tem a maior incidência – 30 entre os 65 casos investigados.
“A incidência de garimpo ilegal na Amazónia, especialmente em territórios indígenas e áreas naturais protegidas, tem crescido exponencialmente nos últimos anos com o aumento do preço do ouro”, disse em um comunicado Beto Ricardo, coordenador geral da Rede do Instituto Socioambiental (ISA), uma das organizações não governamentais brasileira que contribuiu com o levantamento.
O especialista acrescentou que “uma das pressões menos pesquisada, em relação ao desmatamento para expansão da pecuária, por exemplo, devido também aos riscos associados ao seu mapeamento. Por isso, a Raisg decidiu incluí-la como uma das questões que necessitam de monitoramento contínuo, especialmente por seus impactos sociais e ambientais”.
O mapa mostrou que a Venezuela é o país com maior número de garimpos, registando 1899 pontos de extração ilegal de minérios, seguida do Brasil, Equador e Peru.
Na Venezuela, os impactos da mineração ilegal já são vistos como graves violações de direitos humanos.
O estudo indicou que na Venezuela, em áreas alvo de garimpo ilegal de diamantes, “a presença de grupos armados colombianos irregulares, ligados ao ELN [Exército de Libertação Nacional] e ao braço dissidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC], é um segredo aberto”.
“Estes [grupos] se envolveram em vários incidentes violentos em áreas de mineração, especialmente no estado de Bolívar, além de atacar e matar soldados venezuelanos em áreas de fronteira do estado do Amazonas, perto da capital Puerto Ayacucho”, frisou o mapa interativo do InfoAmazônia com os dados do Raisg que também foi divulgado hoje.
Na Colômbia e Bolívia, as unidades de análise foram os rios, razão pela qual não aparecem quantificados como pontos de garimpo.
A presença de mercúrio nos rios é outro factos de destaque dos efeitos negativos do garimpo ressaltados pelo estudo porque, além dos danos ambientais produzidos pelo desmatamento e a abertura de crateras no solo, o mercúrio utilizado na extração do ouro contamina rios e peixes e populações que têm o pescado como base de sua alimentação.
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