Redação, 14 abr 2021 (Lusa) — A associada do projeto moçambicano Coligação pela Integridade Organizacional Jovita Fazenda sublinhou hoje que o setor privado “tem um papel” no combate à corrupção.
“Os políticos não se corrompem a si próprios, são corrompidos pelo setor privado. É por isso que eu digo que há um papel para o setor privado. O setor privado precisa de ter padrões e precisa de fazer pressão para que a ação coletiva do setor privado tenha essa força”, apontou, na sua participação na mesa-redonda sobre “Conformidade empresarial em Combate à Corrupção em África: Práticas, Desafios e Perspetivas”, organizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e pelo Banco Africano de Desenvolvimento.
Jovita Fazenda, que trabalhou como chefe executiva de Ética e Conformidade na Vodacom Moçambique, recordou a sua experiência enquanto trabalhou com multinacionais, comparando-as com empresas locais na atitude perante às políticas de conformidade empresarial.
“As multinacionais aparecem com padrões internacionais que precisam de ser aplicados (…), mas elas querem trabalhar com empresas locais, que, na maioria das vezes, ainda vêm as políticas de conformidade empresarial como desnecessárias ou como um investimento que ainda não precisa de ser feito porque têm outras prioridades”, apontou Fazenda.
A moçambicana defendeu também a importância da formação ética.
“Neste momento, estamos a formar pessoas com conhecimento técnico, mas que não têm outras habilidades (…) em termos de ética”, afirmou, sublinhando que “as pessoas precisam de saber como fazer o seu trabalho e de saber qual o seu impacto”.
Para Natasha Linn Felix, diretora de conformidade empresarial na Burmeister & Wain Scandinavian Contractor (BWSC), uma empresa dinamarquesa com presença em África, considerou que há três fatores que levam as empresas a estabelecer políticas de conformidade empresarial em combate à corrupção: “o compromisso em fazer as coisas bem e atuar com integridade”, “a resposta aos riscos legais” e “o risco reputacional”.
“Acho que, cada vez mais, estamos a mudar de um foco nos riscos legais para uma motivação mais integrada de todos os objetivos de desenvolvimento sustentável. Precisamos de responder às questões da corrupção para conseguirmos alcançar estes objetivos, e, enquanto negócios, também precisamos de ver isso de uma forma integrada e holística”, defendeu Linn Felix.
Quanto ao combate à corrupção, Natasha Linn Felix defendeu que “ninguém, nenhum país e nenhuma entidade” é “uma ilha na luta contra a corrupção”, apontando a necessidade da cooperação e da educação neste aspeto.
“É nossa responsabilidade perante os jovens, perante aqueles que temos em casa, educá-los, claro, mas também nos nossos locais de trabalho, na forma como apoiamos o jornalismo de investigação — também um jogador-chave na luta contra a corrupção. E por isso, acho que acaba sempre por passar por nos educarmos a nós e àqueles que nos rodeiam, mas sem pregarmos sermões”, disse.
Já Cas Coovadia, presidente do conselho administrative da Business Unity South Africa (BUSA), abordou a necessidade de incorporar o combate à corrupção nas empresas.
“Precisamos de combater a corrupção, mas também é preciso incorporar isso nas empresas, uma vez que a corrupção e a falta de integridade, com toda a certeza na África do Sul, de onde falo, se tornaram bastante sistémicas, e por isso a resposta também deve ser sistémica.
O líder da BUSA acrescentou que a maioria dos dirigentes de empresas em África “não estão a levar isto a sério”, considerando que “são fraquezas” que devem ser combatidas.
Na ótica de Coovadia, “precisa de haver consequências grandes para a corrupção e para a atividade corrupta”, sugerindo que os perpetradores devem ser identificados, acusados e julgados.
JYO // JH
Lusa/Fim