Lisboa, 16 jul 2024 (Lusa) — Os Artistas Unidos admitem dissolver a companhia em 2025 se até ao final do ano continuarem sem um espaço de trabalho, disse à agência Lusa o ator João Meireles, da direção do grupo de teatro independente.
A companhia está a fazer hoje o despejo do Teatro da Politécnica, em Lisboa, onde se encontrava desde 2011, e que tem de abandonar até ao final do mês. Tem já desmontado o escritório, as oficinas e os camarins, estando agora a tratar do palco e das bancadas, que partirão para um armazém, onde fica centrado o seu trabalho administrativo.
Em março de 2022, os Artistas Unidos foram informados pela Universidade de Lisboa de que não seria renovado o contrato de arrendamento deste espaço, que faz parte da área das antigas instalações da Faculdade de Ciências.
A companhia continua a trabalhar. Em novembro vai estrear “Vento Forte”, de Jon Fosse, no recém-aberto Teatro Variedades, tem em cena a peça “Remédio”, de Enda Walsh, no Festival de Almada, e dentro de dias vai estrear “Búfalos”, de Pau Miró, no Citemor, em Montemor-o-Velho.
A ausência de espaço levanta problemas, não só pelo acordo que têm com a Direção-Geral das Artes, ao nível da programação, que prevê a existência de um local fixo, como pela logística e custos envolvidos no movimento de pessoas e de estruturas, como João Meireles já avançara à Lusa.
A assessoria de imprensa da Câmara Municipal de Lisboa (CML) disse à agência Lusa que a autarquia continua empenhada na resolução deste processo e em encontrar uma solução definitiva, consensualizada com os Artistas Unidos, que permita a continuidade do seu trabalho.
O presidente da autarquia, Carlos Moedas, admitiu na semana passada não haver ainda um espaço para a companhia, sublinhando estar a “trabalhar muito no sentido de encontrar uma solução definitiva”.
“Temos andado a ver mil espaços”, disse Carlos Moedas aos jornalistas nos Paços do Concelho, na conferência de imprensa de apresentação do balanço dos projetos e das atividades culturais da cidade de Lisboa, na passada sexta-feira.
Para Carlos Moedas, o ideal era voltar ao lugar inicial da companhia no Bairro Alto, o antigo edifício d’A Capital, que necessita de obras de reconstrução.
Questionado sobre a hipótese de regressarem a este espaço no Bairro Alto, João Meireles disse tratar-se de uma ideia que a companhia colocou em março de 2022, mas que “é apenas uma ideia”.
“Ainda nem há certeza de que a obra prevista para aqueles edifícios permita que se instale uma sala de espectáculos”, afirmou, acrescentando não existirem projetos globais “para se conseguir perceber” que espaço estaria disponível para o equipamento. E mesmo que seja uma “ideia concretizável”, só o será “daqui a uns anos”, frisou, já que a obra não está feita. A preocupação mais urgente da companhia consiste em ter um lugar onde possa trabalhar.
Na semana passada, Carlos Moedas disse ainda que esteve a tentar negociar com o reitor da Universidade de Lisboa para prolongar um pouco mais a utilização do Teatro da Politécnica, mas sem resultados.
Na mesma conferência de imprensa, Carlos Moedas anunciou a reabertura do Teatro Variedades, no Parque Mayer, em Lisboa, a 05 de outubro, adiantando que vai juntar “companhias independentes que não têm ‘casa’ e não têm nada a ver umas com as outras”, como “os Artistas Unidos, Marina Mota, o teatro de revista”, acrescentou, escusando-se a dar pormenores.
“Mantemos o diálogo e um esforço ativo junto da CML, na expectativa de uma alternativa digna e estável que permita cumprir definitivamente os objetivos da companhia e estabelecer um trabalho duradouro e consequente com a comunidade artística e de espectadores locais”, lê-se na mensagem que os Artistas Unidos têm no seu ‘site’, na Internet. “Até ao momento, nenhuma das hipóteses identificadas pela CML ou sugeridas pelos Artistas Unidos foi considerada viável”.
Os Artistas Unidos, fundados em 1996 pelo dramaturgo e encenador Jorge Silva Melo (1948-2022) completam 30 anos de existência em setembro de 2026.
CP (RCP) // MAG
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