Uma nova análise alerta que as principais cidades do Canadá estão com dificuldades em manter o funcionamento dos seus sistemas de transporte público, que caminha para uma “espiral descendente”, caso não exista abertura de novos fluxos importantes de receita operacional.
David Cooper, diretor da Leading Mobility Canada e coautor do estudo, cujo relatório foi publicado no fim de maio, disse que a maior parte do transporte público é financiada pelas tarifas dos passageiros e impostos sobre a propriedade, com opções muito limitadas para outras fontes de receita.
O relatório mostrou que antes da Covid-19, as tarifas de passageiros cobriam uma média de 59% dos custos de trânsito no Canadá, mas em 2023 as tarifas passaram a cobrir um máximo de 43% (valor registado em Toronto).
O imposto sobre a propriedade é geralmente a segunda maior fonte de receita do transporte público, mas a inflação e a acessibilidade exerceram enorme pressão sobre as cidades.
Para a elaboração deste relatório foram analisados os orçamentos, fontes de receita e planos de longo prazo de oito sistemas de trânsito em Vancouver, Calgary, Edmonton, Winnipeg, Ottawa, Toronto, Montreal e Halifax, com a maioria a relatar um défice orçamental.
Em 2023, Calgary relatou um défice de 33 milhões de dólares e Toronto relatou um défice de 366 milhões de dólares.
Apesar de o Governo federal ter alocado 120 milhões para a expansão destes sistemas de transporte, os munícipios referem que este investimento não ajudará as cidades que lutam para manter os autocarros, metros e comboios a funcionar nos níveis atuais, alegando custos operacionais muito acima do que podem pagar e que o financiamento governamental é limitado e temporário.
Esta situação fez soar os alarmes nas grandes cidades canadianas. No final de julho, a TransLink de Vancouver alertou que terá de fazer cortes significativos como o cancelamento de 145 das suas 245 rotas de autocarro e a redução do serviço no SkyTrain e no SeaBus, com implicações de mobilidade para mais de meio milhão de pessoas.
Em 8 de agosto, o presidente da Câmara Municipal de Ottawa, Mark Sutcliffe, soou o alarme sobre uma crise devido a um rombo de 9 milhões de dólares no plano financeiro de longo prazo da OC Transport.
Com este relatório surgiu o pedido de criação de uma comissão nacional sobre o financiamento operacional de transporte público, reunindo províncias e municípios para determinar a melhor maneira de salvar os seus sistemas. Cooper defende que cortar serviços é uma sentença de morte, porque se o número de passageiros cair, as receitas caem, seguindo-se mais cortes.
Também no setor de transportes aéreos, a situação financeira tem implicações drásticas. A falta de receitas lucrativas levou a Canada Jetlines a suspender voos e encerrar operações, sendo a terceira operadora áerea a tomar esta decisão no último ano. A Swoop encerrou as suas rotas em outubro de 2023 e a Lynx Air em fevereiro de 2024.
A Jetlines tinha um défice de 38,3 milhões de dólares e um fundo de maneio negativo de 14,9 milhões de dólares a 31 de março.