Dois maiores partidos cabo-verdianos deixam apoios a candidatos a PR para depois das legislativas

Praia, 01 abr 2021 (Lusa) – Os dois partidos que dominam a política cabo-verdiana vão ter ex-presidentes a disputar o cargo de Presidente da República em outubro, mas as lideranças do MpD e PAICV convergem em decidir sobre apoios só após as legislativas.

A posição, comum aos dois partidos, foi expressa em entrevista à Lusa pelo presidente do Movimento para a Democracia (MpD, no poder), Ulisses Correia e Silva, que deixa uma decisão dos órgãos partidários sobre o apoio à candidatura de Carlos Veiga (ex-presidente do MpD e ex-primeiro-ministro) para depois das eleições legislativas de 18 de abril, em que tenta a recondução como primeiro-ministro.

“Sobre o dossiê presidenciais, só depois das legislativas”, afirmou.

Ulisses Correia e Silva admitiu que Carlos Veiga, que apresentou este mês a sua candidatura oficial às eleições presidenciais de 17 de outubro, “é um bom candidato”, da “família política” do MpD e que “comunga dos valores e dos princípios” que o partido defende.

“Portanto, no momento próprio estaremos a tomar a decisão, que não é uma decisão pessoal do presidente do MpD, mas é uma decisão do sistema MpD, nomeadamente a sua direção nacional. Mas isso depois de 19 de abril estaremos a trazer este dossiê como prioridade”, afirmou o líder do partido no poder em Cabo Verde.

Cerca de duas semanas depois de Carlos Veiga, em 19 de março foi a vez de José Maria Neves, ex-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) e primeiro-ministro de 2001 a 2016, anunciar oficialmente a candidatura às eleições presidenciais.

Do lado da oposição, e também em entrevista à Lusa, a presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, que tenta retomar o poder para o partido no arquipélago, reserva igualmente uma decisão sobre o eventual apoio a José Maria Neves para depois das legislativas, embora sublinhando o “reconhecido mérito” nacional e internacional do agora anunciado candidato presidencial.

“Relativamente à posição do PAICV, nós, logo a seguir às eleições legislativas, nos pronunciaremos sobre isso, depois de reunir os órgãos competentes. Mas é uma personalidade que pelo seu percurso é natural e compreensível a sua candidatura”, reconheceu Janira Hopffer Almada, que em 2014 sucedeu a José Maria Neves na liderança do partido.

Do lado do MpD, e após resultados desfavoráveis nas eleições autárquicas de 2020, em que perdeu a Câmara da Praia para o PAICV, após oito anos a liderar o partido, uma derrota eleitoral nas legislativas coloca em causa Ulisses Correia e Silva, o mesmo acontecendo com a líder da oposição, que pela segunda vez tenta chegar ao poder em Cabo Verde em eleições legislativas.

Cabo Verde encerra o ciclo eleitoral (três eleições em menos de um ano) com as presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.

José Maria Neves, 61 anos, já admitiu que na sua experiência só lhe falta mesmo ser Presidente da República. Já foi dirigente partidário — presidente do PAICV -, deputado nacional, presidente de câmara, ministro, primeiro-ministro e, atualmente, é professor universitário na Praia.

“Tenho jogado o jogo democrático em várias posições e tenho feito da política um espaço de aprendizagem”, afirmou, na apresentação da sua candidatura.

Apesar da militância de cerca de 40 anos no PAICV, recordou que constitucionalmente a candidatura a Presidente da República é “suprapartidária” e numa altura de pré-campanha para as eleições legislativas de 18 de abril disse que é preciso “dar tempo aos partidos”.

“Depois das legislativas falaremos com todos os partidos políticos, necessariamente e indubitavelmente com o PAICV, e com os outros partidos políticos. Espero contar com o apoio do PAICV e de outros partidos e forças políticas presentes agora nas disputas eleitorais”, afirmou.

Também Carlos Veiga, 71 anos, candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2001 e 2006, prefere não pedir o apoio do partido, que fundou e liderou (MpD).

“Todos sabem de onde eu venho no espetro político cabo-verdiano. Mas no cumprimento da letra e do espírito da Constituição, proponho-me ser um candidato apartidário e serei um Presidente da República acima dos partidos. A minha camisola será, como aliás sempre foi, a da seleção nacional”, afirmou, aquando da apresentação como candidato.

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