Praia, 30 mar 2021 (Lusa) – O presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva, acusa a oposição de “desejar” o descalabro da Cabo Verde Airlines (CVA) para retirar “aproveitamento político” e garante que o Estado não injetou qualquer verba na companhia desde a privatização.
“Mais do que aproveitamento político, há uma vontade expressa de deixar as coisas entrar em descalabro, isso é evidente porque determinada oposição nem sequer esconde que há um desejo lá dentro muito forte para que haja um desmoronamento da companhia para tirarem proveitos políticos com esse facto. Mas isso não vai acontecer”, afirma Ulisses Correia e Silva, em entrevista à Lusa.
O líder do Movimento para a Democracia (MpD) desde 2013 é primeiro-ministro desde 2016 e tenta a reeleição nas legislativas do próximo dia 18 de abril, em plena crise económica, social e sanitária provocada pela pandemia de covid-19, que também deixou os aviões da CVA, privatizada e liderada (51%) por investidores islandeses desde 2019, em terra desde março do ano passado.
“Nós temos um parceiro estratégico, que tem o seu peso na empresa atualmente, e temos os objetivos de Cabo Verde, a nossa política de transportes. Tentamos conciliar e fazer com que, primeiro, a empresa não entre em colapso, segundo, que possa estar em condições de retoma”, explica, defendendo que a CVA “não é um oásis” no “oceano dos problemas que existem neste setor dos transportes aéreos” internacionais devido à pandemia.
“Nós em Cabo Verde estamos a fazer isso, evitar o colapso, porque a companhia aérea não é um problema do acionista, é muito mais do que o acionista. São 300 trabalhadores, é o posicionamento estratégico de Cabo Verde, num setor económico muito importante, não só para o turismo, não só para as conectividades, mas também para a nossa diáspora, e faz todo o sentido que o Estado esteja presente”, explica, justificando as opções da maioria que suporta o Governo.
Garante que o apoio à CVA, companhia em que o Estado ainda tem uma participação de 39%, tem sido através da emissão de garantias para cobrir empréstimos e assim “fazer com que a empresa tenha condições de superar e suportar a sua tesouraria”, tal como acontece outras empresas que acedem a linhas de crédito covid-19.
“Estamos a fazer estender também um conjunto de medidas de proteção, que são válidas para vários tipos de empresas, à CVA e esperemos que a retoma aconteça. Não depende apenas da CVA”, aponta, sobre um tema que tem marcado a disputa política nos últimos meses, nomeadamente com as críticas do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) às decisões do Governo e da maioria do MpD sobre a companhia.
Desde novembro, o Governo suportado pelo MpD já aprovou cinco avales para empréstimos de emergência pedidos pela administração da companhia, cobrindo cerca de 20 milhões de euros.
“Nós não injetámos dinheiro diretamente”, afirma Ulisses Correia e Silva, explicando que são apenas coberturas do crédito, tal como o Estado tem feito com outras empresas afetadas pelas consequências da pandemia.
“Não fazia sentido, a não ser que fosse por motivos de estar com uma ideia obsessiva de matar a empresa, que não iríamos deixar de utilizar este instrumento. A empresa precisa de financiamento e precisa da garantia para que esse financiamento aconteça junto do sistema bancário, é isso que o Governo tem estado a fazer”, justifica.
Apesar do atraso na retoma da procura turística por Cabo Verde, dinamizando com isso a atividade da companhia, Ulisses Correia e Silva acredita que há condições, conforme acordo apresentado recentemente pelo Governo aos acionistas, para que “brevemente” a CVA retome os voos.
“Mas de uma forma muito condicionada porque o mercado, hoje e nestas condições, não permite ter a ambição que nós tínhamos. Não só a ambição, mas aquilo que estava a acontecer até 2019: várias conexões, África, Europa, América, Brasil. Neste momento é um mundo muito diferente, e muito diferente para todos”, reconhece.
As críticas da oposição abrangem toda a política de transportes da atual maioria, incluindo voos domésticos, com um único operador, e a concessão do serviço público de transporte marítimo interilhas de passageiros e mercadorias, liderado pela portuguesa Transinsular.
“O que é preciso fazer é aumentarmos mais essas conectividades e aí sim, numa fase seguinte, estaremos a reanalisar no sentido de vermos os instrumentos que existem em termos de políticas de transportes. E também de regulação, como é que nós podemos melhorar o nível de conectividade do país e das ilhas entre si”, aponta Ulisses Correia e Silva.
Contudo, adverte, na perspetiva do MpD, que “se por qualquer razão houver necessidade de o Estado intervir” nos transportes, isso acontecerá: “O Estado não vai deixar, em nenhuma circunstância, que haja colapso do sistema de transportes interilhas em Cabo Verde”.
E avisa que nas ligações domésticas “o interesse público” é algo “que se sobrepõem aos operadores”: “Somos ilhas e temos de ter conectividades”.
Sobre a concessão do serviço público marítimo à Cabo Verde Interilhas, iniciada em agosto de 2019 e válida por 20 anos, fortemente criticada pelo PAICV, que contesta a escolha da empresa portuguesa, garante que “tem estado a funcionar” e que o país tem atualmente “ligações muito mais regulares, previsíveis e estáveis”, com previsão de reforço da frota com um novo navio ainda este ano.
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