Kremlin desaprova mortes civis nas manifestações pró-democracia em Myanmar

Moscovo, 29 mar 2021 (Lusa) — O Kremlin desaprovou hoje a repressão sangrenta contra as manifestações pró-democracia em Myanmar, revelando-se preocupado com o crescente número de mortes de civis.

“Temos relações muito antigas e construtivas com Myanmar, (…) o que não significa que aprovemos os trágicos acontecimentos que estão a ocorrer no país”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, que denunciou “o crescimento do número de vítimas entre a população civil”.

As declarações do Kremlin surgem no momento em que a Rússia é suspeita de manter relações próximas com as autoridades militares de Myanmar.

O chefe da junta, o general Min Aung Hlaing, recebeu o vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomine, no sábado, durante um jantar com vários dignitários, tendo-o convidado também para um desfile militar no mesmo dia, onde foram apresentados veículos de guerra russos, incluindo tanques e aviões de combate.

Numa nota divulgada na sexta-feira pelo exército russo, Alexander Fomine considera Myanmar um “aliado confiável e um parceiro estratégico” no sudeste asiático, com quem a Rússia deseja “aprofundar” a cooperação militar.

A junta militar que derrubou a chefe de Governo civil Aung San Suu Kyi, em 01 de fevereiro, tem reprimido de forma violenta as manifestações diárias que pedem o regresso da democracia e a libertação de antigos líderes.

A ONU estima que, só no passado sábado, a repressão sobre os manifestantes tenha provocado 107 mortes, incluindo sete crianças, e os ‘media’ locais falam em 114 vítimas mortais.

Pelo menos 459 pessoas já morreram desde o golpe, que os militares justificam alegando fraude eleitoral cometida nas eleições legislativas de novembro passado, nas quais a Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi, venceu por esmagadora maioria.

Tanto os observadores internacionais como a comissão eleitoral deposta pela junta militar após a tomada do poder negaram a existência de irregularidades, apesar da insistência de alguns comandantes do Exército, cujo partido detém 25% dos lugares no Parlamento.

A comunidade internacional tem anunciado sanções contra os líderes do golpe militar, incluindo o general Min Aung Hlaing, presidente do Conselho Administrativo de Estado e autoridade máxima em Myanmar.

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