Praia, 29 mar 2021 (Lusa) – A presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, afirma que o objetivo do partido é voltar ao poder em Cabo Verde nas legislativas de abril, prometendo cortar gastos supérfluos e defendendo um compromisso nacional com todos os partidos.
“Para nós, um bom resultado é, primeiramente, aumentar o número de votos, em segundo lugar aumentar a nossa representação parlamentar, ou seja, o número de deputados na Assembleia Nacional”, diz Janira Hopffer Almada, em entrevista à agência Lusa.
Afastado do poder em 2016, após três legislaturas consecutivas a governar, a dirigente vai mais longe e assegura que fazer regressar o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) ao executivo é o objetivo nas eleições de 18 de abril.
“O PAICV tem uma meta clara, que é ganhar as eleições legislativas de 2021, ter a maioria para formar Governo e implementar o projeto Cabo Verde para todos”, afirma.
Questionada pela Lusa sobre a possibilidade de chegar ao Governo através de uma coligação pós-eleitoral, Janira Hopffer Almada assegura apenas que o PAICV vai “trabalhar com o foco” nas metas definidas.
“Insisto, vamos trabalhar para merecer a vontade maioritária dos cabo-verdianos, com humildade, mas com muita convicção e determinação, sobretudo colocando os interesses de Cabo Verde em primeiro lugar”, diz.
Licenciada em direito pela Universidade de Coimbra, Janira Hopffer Almada, 42 anos, ascendeu à liderança do PAICV em 2014, e foi ministra da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos de Cabo Verde no último Governo do partido.
A concorrer pela segunda vez a primeira-ministra, num país profundamente bipolarizado entre Movimento para a Democracia (MpD) e PAICV, garante que a primeira decisão, caso seja eleita, será “cortar nos desperdícios e nos gastos supérfluos do Estado”.
“Nós temos de ter a noção do país que somos, mas sobretudo da necessidade que temos de priorizar. Para mim há áreas fundamentais que estão sem os recursos necessários e suficientes, enquanto temos desperdícios lá onde, no nosso ponto de vista, não há necessidade”, explica.
A dirigente critica alegados gastos atuais do Estado com viagens e deslocações, publicidade, parque automóvel do Estado ou em honorários “com recursos dos cabo-verdianos que se debatem com sérias dificuldades neste momento”.
“Há um conjunto de desperdícios e de gastos supérfluos que nós já identificámos ao longo destes cinco anos com esta governação que nós não estamos dispostos a manter, até por uma questão de respeito pela situação do país”, acrescenta.
Sobre prioridades, com o país profundamente afetado pelas consequências económicas da pandemia de covid-19, com o turismo, que garante 25% do Produto Interno Bruto, praticamente parado há um ano, assume que a primeira passa pelo “relançamento da economia cabo-verdiana”.
O objetivo é “uma perspetiva de crescimento económico inclusivo para gerar mais empregos dignos, sobretudo considerando a juventude capacitada da nossa população”, aponta.
A redução das “desigualdades sociais” e das “assimetrias regionais”, respeitando a “igualdade social” e considerando sempre a “natureza arquipelágica” de Cabo Verde é a segunda prioridade.
“Em terceiro lugar, a prioridade seria encetar um profundo e leal diálogo, com todos, com a sociedade civil, com os demais partidos políticos, na perspetiva de podemos estabelecer compromissos sobre as grandes prioridades nacionais para o desenvolvimento de Cabo Verde. E aqui eu incluo fundamentalmente e primeiramente as áreas, da educação, justiça, segurança e política externa”, aponta.
Admite que Cabo Verde tem hoje “muitas famílias a passarem por sérias dificuldades”, devido à pandemia, com a taxa de desemprego a duplicar em 2020, para cerca de 20% e a pobreza a crescer, por falta de rendimentos.
“É um momento difícil, muitos perderam o emprego, outras tantas famílias debatem-se com problemas de rendimentos, há um agravar da pobreza, temos novos pobres, infelizmente, em Cabo Verde, portanto, todos nós, que somos comprometidos com o nosso país, temos de ter a noção dessa realidade, que nos entristece a todos”, aponta ainda.
Contudo, também reconhece que durante esta pandemia os profissionais de saúde e o sistema nacional de saúde de Cabo Verde foram “uma fortaleza”, desde logo em resultado da “visão e das políticas” de “todos os Governos de Cabo Verde desde a independência nacional”.
Ainda sobre a pandemia de covid-19, afirma que algumas medidas de apoio implementadas pelo Governo, aprovadas pela Assembleia Nacional também com o voto favorável do PAICV, apresentaram “falhas de eficácia e na implementação”.
“Muitas delas não foram implementadas no tempo em que teriam utilidade, outras tantas não chegaram aos devidos destinatários, e tudo isso acabou por ter impactos negativos na gestão da própria pandemia por parte do Governo de Cabo Verde”, critica.
As eleições legislativas em Cabo Verde elegem a Assembleia Nacional, composta por 72 deputados eleitos por sufrágio universal, direto, através de círculos eleitorais, em cada ilha e na diáspora.
O país está cerca de 30 anos profundamente bipartidarizado, entre MpD, que tem atualmente uma maioria absoluta de 40 deputados, e o PAICV, que soma 29, além dos três eleitos da União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID).
“Se eu merecer a confiança dos cabo-verdianos, maioritariamente, farei de tudo o que estiver ao meu alcance, usando todas as minhas forças e tudo o que eu puder dar em termos de trabalho, de entrega, de empenho, com seriedade e honestidade, acrescida à responsabilidade, para implementar um Cabo Verde para todos”, remata.
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