Nações Unidas, 28 mar 2021 (Lusa) — Duas altas responsáveis da ONU apelaram hoje à comunidade internacional para que se empenhe na proteção da população de Myanmar face à violência das autoridades militares, que, no sábado, matou pelo menos 107 pessoas.
Num comunicado conjunto, citado pela agência de notícias EFE, a alta-comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e a assessora especial para a Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, pediram ação ao Conselho de Segurança que, até agora, se limitou a condenar a repressão violenta das manifestações de civis contra a junta militar que tomou o poder num golpe de estado em 01 de fevereiro.
Para estas responsáveis, “a comunidade internacional tem a responsabilidade de proteger” a população das “atrocidades” cometidas pelo exército.
“As ações vergonhosas, cobardes e brutais do exército e da polícia — que foram gravados a disparar sobre manifestantes quando fugiam e que nem sequer pouparam crianças pequenas — devem parar imediatamente”, lê-se no comunicado.
As autoridades militares de Myanmar reprimiram com violência este sábado manifestações em cerca de 40 cidades, o que provocou pelo menos 107 mortos, incluindo sete crianças, avança a ONU.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também já condenou “nos termos mais contundentes” a repressão militar.
“A contínua repressão militar, que hoje resultou no balanço de mortes mais alto num dia desde que as manifestações contra o golpe começaram, no mês passado, é inaceitável e exige uma resposta internacional firme, unida e decidida”, defendeu Guterres, num comunicado enviado no sábado.
Também a embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Myanmar (antiga Birmânia), a União Europeia e a Grã-Bretanha já tinham condenado hoje a junta militar no poder por “matar civis desarmados”.
A China e a Rússia, dois países que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, não se manifestaram.
Estes dois países já protegeram no passado as autoridades de Myanmar de possíveis sanções, como aconteceu com uma operação militar que, em 2017, provocou um êxodo em massa da minoria muçulmana rohingya que a ONU considerou ser uma “limpeza étnica”.
No comunicado enviado hoje, Nderitu e Bachelet recordam que “o fracasso na hora de responder a atrocidades que o exército cometeu no passado, incluindo contra os rohingya e outras minorias, levaram Myanmar a esta terrível situação”.
Sábado foi o dia com mais mortes desde o golpe de 01 de fevereiro liderado pelo chefe do Exército e da junta militar, Min Aung Hlaing.
O massacre aconteceu no dia em que se celebrava o Dia das Forças Armadas, com um desfile presidido pelo chefe do Exército na capital, Naipiyidó.
Enquanto Min Aung Hlaing presidia ao desfile, muitos manifestantes falavam em “dia contra a ditadura militar” e “dia da desgraça”.
O general referiu que a sua missão é “defender a democracia” e prometeu realizar eleições, sem especificar uma data.
Os soldados e a polícia cumpriram a ameaça que a televisão e a rádio estatais transmitiram na sexta-feira – a de que atirariam sobre os manifestantes.
O número total de mortos desde fevereiro ultrapassa agora os 400.
No dia 01 de fevereiro, os generais tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro.
Desde o golpe de Estado repetem-se as manifestações de protesto marcadas pela violência policial e do exército.
De acordo com a organização não governamental (ONG) Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), mais de 2.800 pessoas, incluindo políticos, estudantes e monges, foram detidas na sequência do golpe de estado.
ILYD (EYC/SCA) // MP
Lusa/FIm