Paris, 24 mar 2021 (Lusa) — A “pressão migratória vai manter-se” para a Europa, pois a pandemia “exacerbou” os fatores de deslocamento e gerou uma nova categoria de “migrantes bloqueados”, considerou hoje o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
É verdade que os fluxos baixaram no conjunto, mas algumas rotas migratórias, em particular a do Mediterrâneo Central que liga o norte de África a Itália, continuam a ser mais utilizadas que antes da crise sanitária, que levou ao encerramento das fronteiras externas da Europa, assinalou António Vitorino, ouvido em Paris pela Comissão dos Negócios Estrangeiros do parlamento.
“A pressão migratória vai manter-se”, alertou o dirigente da organização ligada às Nações Unidas.
“Os fatores que provocam as migrações foram exacerbados pela pandemia. O que nos preocupa com o que se vai passar nos próximos anos”, adiantou.
Aos fatores clássicos como a perda de empregos (a OIM estima-os em 20 milhões em África relacionados com a covid-19), a insegurança alimentar e os conflitos, junta-se as alterações climáticas, que se tornarão um “detonador de movimentos populacionais” num futuro próximo.
“Às vezes na Europa, parece que se fala de 2030, 2040, 2050… Mas a realidade das alterações climáticas já está a acontecer”, insistiu Vitorino, apelando para que a questão seja incluída nos acordos de Paris sobre o clima.
A propósito, alertou que o Sahel “reúne todos os elementos de uma tempestade perfeita” para a migração.
Vitorino referiu ainda “uma nova realidade”, a dos “migrantes bloqueados” que tentavam voltar ao seu país de origem, mas que não puderam devido às consequências da pandemia (fronteiras fechadas, transportes aéreos proibidos…).
A OIM calcula que sejam três milhões no mundo, dos quais 1,2 milhões nas regiões do Médio Oriente e do Norte de África.
Eles alimentarão as próximas deslocações e “começam a mover-se recorrendo a traficantes”, afirmou.
“Estamos a regressar à normalidade da pior maneira possível”, lamentou.
“Na ausência de rotas de migração legal, as pessoas tentam deslocar-se através de rotas irregulares. A pandemia mudou isto? De modo nenhum. Na Líbia, os traficantes só pararam durante três semanas, em março de 2020. Depois voltou tudo ao que era antes”, disse Vitorino.
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