Lisboa, 21 set 2020 (Lusa) — A existência de um vírus de escala global trouxe “uma imensa perceção” sobre a forma como as pessoas se relacionam e sobre as consequências dessa interação no ambiente sonoro, afirmou à agência Lusa a investigadora Raquel Castro.
Essa relação está subjacente à edição deste ano do Lisboa Soa, um programa cultural que cruza arte sonora, urbanismo e cultural auditiva, com concertos, instalações e passeios por vários espaços da cidade.
Para esta quinta edição, hoje apresentada, o Lisboa Soa associou-se à iniciativa Lisboa Capital Verde Europeia sem deixar, com isso, de abordar as implicações da pandemia da covid-19 nesta temática da arte sonora.
“Noto uma enorme diferença naquilo que é a atenção e a consciência das pessoas. Antes da pandemia houve uma grande movimentação que começou por habitantes de Lisboa, incomodados pelo ruído na cidade, discotecas ao ar livre e ‘turistificação’ da cidade. E depois veio o silenciamento total. O que é interessante nisto é que nem uma coisa nem outra. Temos que nos situar no meio disto”, sublinhou.
O Lisboa Soa começa na quinta-feira, com mais de uma dezena de instalações sonoras e 15 concertos espalhados pela cidade, mas terá uma antecipação, na terça-feira, com um dos projetos convidados: Um laboratório de bicicletas ambientais, que conta com a participação dos compositores e pesquisadores Kaffe Matthews, Federico Visi e Lisa Hall.
Segundo a organização, haverá bicicletas ambientais disponíveis para quem quiser circular pela cidade, com a particularidade de terem sensores e um sistema sonoro para produzirem som a partir da qualidade de ar.
No Campo dos Mártires da Pátria estará instalado um laboratório para recolher informações dessas bicicletas pedaladas por quem participar no Lisboa Soa.
“O ambiente sonoro foi um grande reflexo disto que vivemos. As pessoas não estão habituadas a refletir sobre isso, mas todas as nossas interações como ser humano têm um reflexo no nosso ambiente sonoro. […] A forma como nos deslocamos de um lugar ao outro é um grande fator de poluição. É um tema genérico suficiente para podermos abordar a temática do ambiente e a qualidade de vida numa cidade verde, europeia”, sublinhou Raquel Castro.
No programa deste ano do Lisboa Soa, também ele reformulado por causa da pandemia, destaque para o regresso a Portugal do trabalho do autor Marco Barotti, com duas instalações sonoras, uma delas intitulada “Woodpeckers”, em que pequenas esculturas com a forma de um pica-pau que se ativam na presença de radiações dos telemóveis.
Gil Delindro terá uma instalação eletroacústica de grande escala, “Fictional Forests”, no Palácio Sinel de Cordes, enquanto Henrique Fernandes e Tiago Ângelo, da associação Sonoscopia, apresentam a instalação sonora “Echoplastos” no Mercado de Santa Clara.
A organização abriu ainda espaço para artistas que quisessem participar nesta edição, tendo selecionado seis entre 80 candidaturas, entre as quais “Corpo clima”, de Nuno da Luz no Jardim do Torel, e “Compasso incerto”, do Coletivo Suspeito, na Estufa Fria.
O Lisboa Soa estende-se até ao fim de semana, propondo ainda vários concertos pensados especificamente para os locais onde decorrerão, como por exemplo o que a harpista Angélica Salvi fará com o percussionista João Pais Filipe no Panteão Nacional, ou a performance de Nuno Rebelo com Constanza Brncic no terraço EPAL.
Vítor Rua, Gabriel Ferrandini, Joana Sá e Luís Martins são outros nomes que se apresentarão no Lisboa Soa.
As entradas os eventos do Lisboa Soa são gratuitas, mas de lotação limitada e com recomendação de registo prévio, “atendendo às medidas especiais de proteção da saúde pública e ao cumprimento das diretrizes da Direção Geral da Saúde no plano de combate à propagação da covid-19”.
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