Lisboa, 09 set 2020 (Lusa) – Ativistas angolanos promoveram hoje, em Lisboa, uma recolha de assinaturas para denunciar a violência policial em Angola, numa iniciativa que visa levar o assunto à União Europeia e às Nações Unidas.
A recolha de assinaturas foi promovida pelo movimento político angolano Bloco Liberal e decorreu na zona de Entrecampos, Campo Pequeno e Avenida da República, próximo da Embaixada de Angola, em Lisboa, durante toda a tarde de hoje.
O objetivo é recolher nesta e em outras ações a realizar nos próximos dias 1.000 assinaturas para encaminhar a organizações internacionais como a União Europeia e o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos uma petição para denunciar os casos de violência policial em Angola.
“Nestes 10 últimos anos, a Polícia Nacional de Angola deixou um rastro de mais de 400 mortos, de pessoas na via pública, tiros dispersos, confundindo cidadãos com marginais. É um conjunto de situações que temos de analisar com alguma preocupação”, disse à agência Lusa Emerson Sousa, coordenador do Bloco Liberal.
A iniciativa surge depois de, em 01 de setembro, o médico Sílvio Dala ter morrido em circunstâncias ainda por esclarecer após ter sido levado a uma esquadra policial por não usar máscara facial no interior da viatura que conduzia.
A morte do médico provocou grande comoção em Angola e fortes críticas da sociedade civil à atuação da polícia, tendo também dado origem a uma petição contra o uso de máscaras faciais no interior de viaturas, que já reuniu mais de 15 mil assinaturas e levou à revogação desta disposição legal.
“Ninguém devia temer pela sua vida por não usar uma máscara ou por ser abordado por um agente da polícia e as autoridades devem ser responsabilizadas ao privar todo e qualquer cidadão dos seus direitos, sobretudo o direito à vida”, defende a petição.
“Infelizmente, em Angola, só no último mês morreram muitas pessoas por brutalidade policial”, disse Érica Tavares, uma jovem ativista ambiental angolana, de passagem por Lisboa e que se associou à iniciativa.
Na petição são destacados os nomes de outras sete vítimas de alegados abusos das forças policiais, com idades entre os 14 e os 25 anos, sendo pedida uma investigação “imediata, rigorosa e independente” às suas mortes, bem como à do médico Sílvio Dala.
A recolha de assinaturas foi também uma oportunidade para esclarecer os transeuntes sobre a situação dos direitos humanos em Angola, que os jovens acreditam “pouco mudou”, apesar das promessas do Presidente João Lourenço.
Emerson Sousa recordou que a questão dos direitos humanos foi uma das bandeiras da campanha de Lourenço, mas que o chefe de Estado não está a cumprir.
“Demos o benefício da dúvida ao novo Presidente de Angola. Prometeu liberdade de reunião, de expressão e de pensamento, mas cada vez que tentamos apontar os erros e fiscalizar os atos do Governo ele extrapola a lei e acaba por reprimir mais”, considerou.
“As coisas não mudaram. Houve um estímulo para podermos falar, mas o que nós falamos não se ouve. Tiraram-nos as coleiras para podermos falar, mas meteram-nos dentro de uma sala fechada e tudo o que falamos e gritamos não é levado em consideração”, sublinhou.
Sobre as pessoas que assinaram a petição durante o dia de hoje, cerca de três dezenas, Emerson Sousa destacou a representatividade de nacionalidades.
“Tivemos brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, um casal de turistas romenos, portugueses e angolanos. A ideia é que as pessoas reflitam sobre o que está a acontecer em Angola”, disse.
“Existe uma grande comunidade, não apenas de angolanos, mas de outras nacionalidades africanas em Portugal e decidimos sair à rua para fazer sensibilização porque não podemos continuar a ver isto acontecer e não fazer nada”, reforçou, por seu lado, Érica Tavares.
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