“FIZ O QUE OS PAIS FAAZEM AOS FILHOS”

A maioria dos abusos aconteceu no Seminário Menor do Fundão. (EDGAR MARTINS)
A maioria dos abusos aconteceu no Seminário Menor do Fundão. (EDGAR MARTINS)
A maioria dos abusos aconteceu no Seminário Menor do Fundão. (EDGAR MARTINS)
A maioria dos abusos aconteceu no Seminário Menor do Fundão.
(EDGAR MARTINS)

Padre disse aos menores que era normal o que acontecia no Seminário. Igreja tentou resolver caso internamente e evitar intervenção da PJ. Rumores eram conhecidos.
Luís Mendes, vice-reitor do Seminário do Fundão, há muitos anos que vivia perseguido pelos rumores. No externato onde dava aulas, já alguns alunos tinham falado de abusos, contactos considerados desapropriados e de cariz sexual. Luís Mendes tinha duas faces. Para muitos pais, era o professor exemplar, o irmão mais velho dos meninos que viviam no Seminário. Para as crianças que agora dizem ter sido vítimas, personificava o pecado, a agressão. Hoje começa a ser julgado, no Tribunal do Fundão, acusado de 19 crimes de abuso sexual de menores. Está em prisão domiciliária.
“Fiz o que os pais fazem aos filhos”, disse Luís Mendes aos menores, quando percebeu que aqueles o tinham denunciado. Numa reunião mantida com as crianças no Seminário Menor, o padre explicou que não tinha nada de mal manterem contactos íntimos. Também outro padre da instituição, quando soube das denúncias, acreditou na palavra do padre. “Os miúdos estão a confundir tudo”, assegurou.
A postura de Luís Mendes foi sempre aceite pela Igreja. A palavra das crianças foi posta em causa. O facto de se tratarem de menores carenciados, alguns problemáticos, tirava-lhes credibilidade. A denúncia feita à PJ foi recebida dentro da instituição com desagrado. “Vocês fizeram muito mal. Se o padre Luís fez alguma coisa foi porque estava com uma depressão, e isto não ajuda nada o estado de saúde dele”, disse o padre José Mendes, segundo o processo judicial, a duas mães de crianças vítimas de abusos.
Também no externato, onde as primeiras acusações foram conhecidas, o caso foi abafado. O diretor da escola reconhece que já tinha ouvido falar de abusos. Aliás, Manuel, nome fictício, foi o primeiro a revelá-los, em 2007. O diretor falou com o padre, aceitou as explicações do então professor de Religião de Moral. As crianças percebiam tudo mal, o caso resolvia-se mudando de turma quem não gostasse de Luís Mendes.