João, nome fictício, não esconde o nervosismo da conversa: Falar sobre o padre Luís, que dia 19 começa a ser julgado, no Tribunal do Fundão, por abusos sexuais, é algo que o perturba. João é testemunha-chave, também ele foi vítima de ataque sexual. Denunciou o então professor, mas ninguém lhe deu ouvidos. Quatro anos depois, o padre foi preso pela PJ da Guarda.
“Faço isto por mim e pelos outros que não têm coragem. O que ele me fez não tem perdão”, garante o jovem que muitas vezes limpa os olhos para evitar que as lágrimas atrapalhem o raciocínio. “Roubou-me a infância. A partir daí foi tudo diferente”, continua.
O “daí” que João fala foram duas situações de abusos. Uma vez no carro do padre, outra no seminário. João recusa-se a relembrá-las, passou quatro anos a tentar que desaparecessem das memórias. Até ao dia em que soube da detenção feita pela Polícia Judiciária. “A minha mãe e a minha namorada ligaram-me a dizer. Eu não queria acreditar que finalmente alguém tinha tido coragem de o prender”.
Foi João quem se dirigiu de imediato à GNR. Foi com a mãe e contou que também ele, quando tinha 16 anos, tinha sido vítima de abusos. Deixou os contactos e esperou depois que a PJ fosse a sua casa. Entregou os e-mails que ainda tinha guardado, as cópias das denúncias de quem lutou pela verdade. “Mandei um email ao Ministério da Educação e outro para o Bispo. Nunca tive resposta.”
Cinco anos depois (o padre Luís foi preso em dezembro do ano passado), João sente que finalmente será feita justiça. “Sei que muitos outros passaram pelo que eu passei. Mas não tiveram coragem de o denunciar.”
João passou estes anos atentar esquecer os ataques sexuais. Recordá-los, agora, é quase uma tortura. “Conto os dias até ao julgamento. Saber que cada vez está mais perto está a deixar-me muito nervoso. É uma angústia”. O jovem assegura que em tribunal irá recordar todos os segundos. “Sei que será muito difícil, mas vou conseguir. Quero que ele pague pelo que fez. Que vá para a cadeia, que seja condenado a uma pena pesada. Eu era um miúdo, ele não tinha o direito de me fazer mal”, concluiu.