Quando vendeu à sociedade Global Sportnet o exclusivo mundial dos direitos televisivos referentes à transmissão dos jogos do Benfica no estrangeiro, em 1999, além do exclusivo dos direitos dos painéis publicitários em todos os jogos do clube no Estádio da Luz, João Vale e Azevedo terá arrecadado, para si, os 1,2 milhões de euros referentes a este contrato. Por isso foi agora acusado por mais um crime de falsificação de documentos e outro de peculato – após mais uma investigação da unidade que combate o crime económico da Polícia Judiciária.
Só o crime de peculato pode render a Vale mais oito anos de cadeia. O antigo presidente do Benfica, depois de ter apostado tudo no pedido de liberdade condicional – face aos cinco anos e meio de cadeia que cumpre na Carregueira, Sintra, pelos vários crimes com penas já transitadas em julgado, chegando a confessar arrependimento às técnicas de reinserção social e a oferecer-se para sacristão da capela da cadeia, para mostrar o seu bom comportamento –, vê assim a vida a andar para trás.
No início de julho foi condenado a mais 10 anos de prisão, pelo desvio de quatro milhões do Benfica, na transferência de jogadores – e, agora, enquanto aguarda pelos recursos da sentença anterior, já foi notificado de mais uma acusação por apropriação de 1,2 milhões do clube.
Em causa, mais uma vez, o recurso à “conta-corrente” que o ex- residente mantinha com o clube, aproveitando-se do facto de o Benfica, à data, “ter os saldos de algumas contas bancárias arrestados, mercê da crise financeira que atravessava”, segundo o Ministério Público.
Vale terá assim ficado com os 1,2 milhões que foram transferidos pela empresa alemã Global Sportnet em tranches para quatro sociedades offshore, mediante indicações do presidente do clube, que depois justificou o procedimento com o facto de, segundo ele, o objetivo ter sido pagar os direitos de imagem e de publicidade dos jogadores Karel Poborsky e Sergey Kandaurov.